23 agosto 2012

33 - Cineminha


Foi difícil aquela conversa com Luciana e Phillip agora só queria poder ouvir a voz de Carolina. Assim que a ouviu, ficou mais calmo e ainda mais apaixonado. Conversaram brevemente, pois os dois estavam ocupados em seus trabalhos e combinaram de mais tarde irem ao cinema, se entreter com algo fora do comum para eles, pois ainda não tinham ido a nenhum. Optaram por um filme de ficção-científica, que Carolina e Phillip gostavam. Queria contar as coisas para Carolina e ouvir o que ela tinha a dizer sobre Roberto.
Phillip pegou Carolina em seu trabalho e a levou a um cinema de rua, um pequeno espaço que ainda resiste ao tempo e que preserva frequentadores fiéis, tão diferentes daqueles que frequentam cinemas de shoppings. Phillip odiou quando os cinemas de bairro foram acabando, pois o clima de sair do cinema andando pelas ruas comentando o filme e parando numa padaria ou restaurante para um lanche ou jantar foi completamente exterminado pelos cinemas de shoppings, em que as pessoas chegam de carro e vão embora de carro, sem aquele clima eterno de férias. Lembrou-se de quando era adolescente e saía com os amigos para o cinema e sempre rolava uma paquera no portão principal, às vezes iam logo depois da praia ou no finalzinho da tarde, estendendo para uma festa ou a encontros no parque próximo. Era sempre divertido. E queria levar Carolina para resgatar aquele sentimento nostálgico que o consumia. Deixou o carro na garagem do apartamento refúgio e foram de mãos dadas andando até o cinema.
- Como sempre, sendo diferente, me levando ao cinema de bairro! Adorei a ideia, muito tempo que não sabia o que era isso! - falou Carolina sorridente.
- Me fez recordar minha adolescência. Passei mais tempo no cinema do que em casa! - riu Phillip.
- Também ia muito ao cinema! Sempre gostei muito. - falou Carolina.
- E agora podemos fazer isso sempre juntos, meu amor! 
- Sabe, Phill? Estava sentindo falta dos nossos passeios.
- Pois é, eu também! - respondeu Phillip segurando com firmeza a mão de Carolina.
Chegaram ao cinema, desfilando no grosso tapete vermelho e encaminharam-se para a bomboniere. Compraram alguns doces e um enorme pote de pipoca. Com os ingressos nas mãos, esperaram a hora da sessão começar e enquanto isso, Carolina admirava a decoração do lugar, abraçada a Phillip.
As portas da sala se abriram e uma fila se formou, todos apressados em pegar seus lugares. O casal foi para os fundos. Carolina colocou o pote de pipoca em seu colo e o copão de refrigerante ficou a cargo de Phillip.
O burburinho do salão deu lugar a barulhos incessantes de pipocas sendo comidas e chicletes sendo mastigados. E foi então que o filme começou com uma cena de escavação geológica em que cientistas e exploradores estão em busca de algo que comprove a origem da humanidade. O casal fica atento ao filme e quando a pipoca acaba, eles ficam mais próximos, com as mãos entrelaçadas. Phillip a observa e nota o interesse na tela e com isso, se aproxima com suavidade, beijando sua nuca e sussurrando em seu ouvido:
- Eu te amo! 
Carolina se enche de felicidade, pois era o que queria ouvir de Phillip e acredita que realmente tinha chegado a hora. Ela também o ama e também queria que ele soubesse, por palavras. O filme já não era tão importante naquele momento.
- Eu também te amo! - sussurrou Carolina, fazendo com que Phillip a beijasse.
Perderam alguns minutos do filme, mas não importava, o filme marcaria aquele momento para sempre. Voltaram ao filme mais apaixonados do que nunca.
Quando a sessão terminou, Phillip pediu que Carolina esperasse para que todos saíssem primeiro, para depois irem tranquilos.
- Não vou levar você para jantar. - falou Phillip.
- Não?! - Carolina espantou-se.
- Não, vou levar você para fazer um lanche. Um lanche que vale um jantar!
Pegou Carolina pela mão e desceram as escadas da sala de cinema e foram caminhando ate a loja. Demoraram quinze minutos até chegar ao local que Phillip queria. Fez uma mesura para que Carolina fosse a primeira a entrar, mas antes ela deu uma conferida, era uma loja de tortas.
Era um lugar pequeno, porém aconchegante. O casal escolheu uma mesa com poltronas vermelhas e mesa com toalha de estampa de poá, verde e branca. Sentaram-se e Phillip pediu o cardápio. Carolina ficou em dúvida de qual torta pedir, mas acabou escolhendo a torta de maçã com sorvete de creme e Phillip, uma torta de damasco com sorvete de morango. Enquanto esperavam, Phillip resolveu começar a conversa.
- Você acredita que Luciana foi ao escritório hoje?
- Luciana? Foi fazer o que lá? - perguntou Carolina irritada.
- Ela foi me mostrar alguns vestidos de noiva, disse que irá se casar comigo e terá que ser logo, pois não quer ser mal falada. Posso com isso? - falou Phillip desnorteado.
- Ela vai fazer de tudo para convencer você, meu bem!
- Mas não vai, ela vai é me tirar do sério! E ainda debochou do meu olho roxo.
- Que por sinal já está bem melhor, sente mais alguma dor?
- Dor nenhuma, mas o incômodo de saber que tem uma mancha nele...
- Vai passar. Mas, o que você disse a ela?
- Disse que ela estava totalmente equivocada, que não iria casar com ela, pois quem eu amo é você, no caso, você, Carol.
- Fico feliz pela parte da declaração - riu Carolina. - Mas e a reação dela?
- Reação de uma completa psicopata, não demonstrou nenhuma alteração de humor, ficou lá, impassível, dizendo que eu estava nervoso e que me ligaria mais tarde para falarmos sobre os convites...
- O que? - Carolina deu um sorriso amarelo, não acreditando no que Phillip lhe acabara de dizer.
- Você está rindo, é? Você não está entendendo o que se passa naquela cabeça perturbada, ela foi até à igreja, ver datas de casamento.
- Ela passou completamente dos limites!
- E eu não sei o que fazer, já falei para ela tudo o que sinto e penso, mesmo que esse filho seja meu, não vou ficar com ela. Assumo o filho, mas não sou obrigado a assumir um relacionamento com ela!
- Eu também não sei o que dizer, meu bem, será que ela seria capaz de fazer você assinar algo que não deveria? - preocupou-se Carolina.
- Bem, isso será impossível, sou bem cauteloso. Só se estiver sob a mira de um revólver, o que não acho improvável em se tratando de Dona Luciana.
- Credo, Phill! 
- Credo mesmo, aquela mulher é louca de pedra, louca de camisa de força! - bradou Phillip.
- Bem, então ela deveria trocar de par, pois ela e Roberto poderiam dar o braço e sair andando por aí, quem sabe a gente não faz outro plano, dessa vez juntando esses dois loucos? 
- É uma boa ideia, amor. - falou Phillip dando um sorriso de canto. - Foi bom você ter falado nele, pois agora é a sua vez de me contar o que houve com o namoro de vocês.
Carolina fez cara feia, mas já estava se preparando para falar quando a garçonete apareceu, entregando os pedidos das tortas. O visual das tortas era perfeito, artesanal. Carolina pediu alguns segundos para Phillip, pois precisava experimentar aquela torta maravilhosa e realmente estava deliciosa. Phillip fez a mesma coisa e deram um longo suspiro depois.
- Agora eu posso lhe contar. Essa torta é maravilhosa, a melhor torta de maçã que já comi! - falou Carolina lambendo os cantos da boca.
- Sabia que você ia gostar. Vim uma vez aqui e só me lembrei dele no meio do filme. Ia levar você para outro lugar, ainda bem que me lembrei a tempo.
- Ainda bem mesmo! Bem, vamos lá... Roberto me traiu e foi flagrado por mim, ninguém me contou não. 
- Puxa, como alguém ia querer trair você!
- Eu tinha uma vizinha que era minha amiga desde a adolescência, saíamos juntas, nos divertíamos juntas, estava sempre na casa dela e ela na minha. Neste dia, fui até o andar dela, antes que Roberto chegasse, iria entregar um livro que ela me emprestara e quando cheguei ao andar dela, quem estava lá, aos beijos na porta do apartamento?
- Não acredito! Posso imaginar o susto que levou.
- Eu fiquei rosa, amarela e azul com tamanha cara de pau dos dois! Meu chão sumiu diante dos meus pés. Foi muito decepcionante.
- Você confiava nele?
- Até então sim! Ele sempre teve fama de mulherengo, tem aquele jeitão malandro, mas nunca achei que fosse fazer isso. 
- E o que você fez? - Phillip estava curioso.
- Bem, quando vi os dois lá aos beijos, fiz questão que eles me vissem e falei: "Olha! Minha melhor amiga e meu namorado se relacionando! Estou feliz por vocês." Na hora saiu essa frase patética! Eles ficaram tão chocados quanto eu. 
- Ser traída pela melhor amiga é muita canalhice. Dela e dele! - falou Phillip rispidamente.
- Desci as escadas correndo e me tranquei no quarto, não queria nem saber de olhar para a cara dele naquele momento. Soube depois que ele foi lá em casa tentar falar comigo, mas já tinha alertado meu pai que não queria falar com ele e meu pai respeitou minha decisão.
- E sua amiga? - perguntou Phillip.
- Bem, ela depois disso ficou constrangida toda vez que esbarrava comigo no elevador. Depois de um tempo ela se mudou e nunca mais soube dela.
- Eles ficaram juntos?
- Nada! No dia seguinte, não tive como fugir de Roberto, ele fez tocaia até falar comigo. Dessa vez acredito que tenha sido sincero, disse que ele e a pilantra estavam há uma semana se encontrando, mas que era fogo de palha, só sexo e queria que eu o perdoasse. Para mim, ele tinha morrido, não tinha cabimento voltar a namorar com um cara que eu simplesmente não confiava mais e poxa, com a minha melhor amiga!? - a voz de Carolina estava cheia de ódio.
- Ela também foi safada! - advertiu Phillip.
- Muito! A culpa também foi dela, afinal de contas. Bem, como levou um fora meu, disse que voltaria para pegar suas coisas. Ele às vezes dormia lá, contra a vontade do meu pai. Seu Júlio nunca foi fã do Roberto.
- Dou razão a ele, seu pai é sábio! - riu Phillip.
- Você está rindo, é? - brincou dessa vez Carolina. - Peguei todas as coisas dele e doei para a primeira igreja que vi! - riu Carolina vingativa.
- Uau! Preciso ter cuidado quando você for brigar comigo!
- Não faço essas coisas a toa, meu bem!
- E o que você doou? - Phillip achou essa parte interessante e ficou bastante curioso.
- Acho que eram duas camisas sociais, um tênis, um relógio que ele tinha acabado de comprar, ele tinha mania de relógio, um bermudão e alguns CDs de bandas furrecas. As cartas e as fotos, rasguei em mil pedaços e depois as queimei. Foi o fogo purificador. Devia ter dado um tabefe nele, mas não fui capaz disso. Acho que você me vingou naquele dia.
- Mas, amor? Você está totalmente curada desse cara, não é mesmo? Desse imbecil?
- Claro que sim, Phill! Na época fiquei com muita raiva, sequei de tanto chorar, mas você pode ficar tranquilo. Foi até bom ele ter aparecido naquele dia, me fez ver o quanto eu te amo e o quanto quero ficar ao seu lado! - sorriu Carolina.
Phillip pegou as mãos de Carolina e a beijou, retribuindo o sorriso e dizendo que também a amava e que também queria ficar ao seu lado.
Os dois voltaram a desfrutar de suas tortas e sorvetes, finalizando um assunto que já estava programado a acontecer.
Saíram da loja de tortas felizes, com a barriga cheia e planejando irem até o apartamento refúgio. Ficariam em sua intimidade até voltarem para as suas casas.

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