28 setembro 2012

12 - Pausa para o café


De volta ao batente.
Depois daquele passeio ao asilo, Carolina ficou bastante impressionada. Às vezes se esquecia como o mundo é, como as pessoas são.
Ela praticamente passa o tempo todo na biblioteca, cercada de livros e não percebe que as pessoas que lê nos livros, existem realmente no mundo 'real' e Phillip estava mostrando cada pedacinho daquele mundo estranho para ela.
Carolina resolveu tirar um tempinho para conversar com Sara, sua colega de trabalho e amiga pessoal. Sara era alguns anos mais velha que Carolina e uma conselheira para ela, além de sábia e atenciosa.
Carolina sempre recorria aos seus conselhos. Sara tinha cabelos curtos e negros, um longo sorriso e um olhar sereno. Era solteira e esperava o cara certo bater a sua porta.
Carolina que estava com uma caneca de café na mão, falou:
- Ontem Phill me levou a um asilo! 
- Asilo? E como foi? -perguntou Sara parando o seu trabalho para ouvir Carolina.
- Ele não tem nenhum familiar lá, mas quando precisou visitar o lugar, se apaixonou e começou a fazer doações junto com os colegas de trabalho.
- Ótima atitude a dele, é um rapaz preocupado, isso diz muito de uma pessoa. - falou Sara.
- Eu também achei fantástico, mas me senti triste por eles.
- Por que, Carol? Eles se acostumam com isso, tem seu cantinho, pessoas da mesma idade, com os mesmos problemas e carências. Divertem-se juntos, não vejo motivo de ficar triste.
- Ah, acho que eu estava num dia ruim. Phill levou o cachorro dele pra lá também.
- Que barato! Aposto que foi uma alegria só!
- Foi sim, eles já conhecem o Phill e o Bento há algum tempo. Eles o adoram.
- Mais um ponto para o Phillip e para você, Carol, que tirou a sorte grande.
- Será, amiga? Tenho medo...
- Caramba, Carol, já falei para você parar com isso; de ter medo, parece criança boba! Se você não se permitir uma aproximação maior, jamais saberá como é ser amada. É preciso se jogar, deixar o passado de lado, esquecer quem te magoou. A vida é assim. 
- Estamos nos aproximando aos poucos...
- Eu sei, mas se tiver que se aproximar mais, nada de temer. Eu não acho que Phill vá brincar com você, ele não faz esse tipo.
- É, eu acho que não...
Nesta segunda, Carolina ligou para Phillip dizendo que não iria encontrá-lo na praça, estava indisposta, um pouco enjoada e iria descansar um pouco. Sairia mais cedo do trabalho.
- Você quer que eu a leve para casa? Alguma coisa que comeu, não é melhor ir ao médico? - falava Phillip preocupado.
- Não, Phill, não precisa se preocupar. Não é nada demais, amanhã já estarei melhor. Pego um taxi, chego rapidinho. - falou Carolina melancólica.
- Bem, então quando chegar em casa, me ligue. Fique bem, Carol, beijo! 
- Ligo sim. Beijo, Phill.

27 setembro 2012

13 - Encontros


Carolina já se sentia bem melhor, no dia seguinte a sua indisposição em que acordara febril, preferindo não ir trabalhar e ficando aos cuidados do irmão e do pai, que a bajulavam, como sua mãe fazia. 
Ela se lembrou de quando se sentia doente e sua mãe a cobria de carinhos, às vezes era até gostoso estar doente. Riu de si mesma e riu também dos dias de chuva forte, com raios e trovões, quando sua mãe falava para não ir ao colégio e Carolina se enfurnava nas cobertas abraçada a mãe, vendo televisão e conversando. 
"Tempo bom...", pensou Carolina.
O pensamento foi cortado pelo toque do telefone. Era Phillip.
- Olá, doentinha, está melhor hoje?
- Sim, Phill, sou uma nova Carol! - riu.
- Ótimo! Porque hoje, vou levar você a dar boas risadas, topa?
- Como posso recusar?
Carolina foi correndo para casa, se preparar para o encontro. Chegou em casa, deixando rastros. Jogou sua bolsa no sofá, tirou seus sapatos pela sala, seus brincos e suas pulseiras, deu um beijo no pai e no irmão e foi tirando sua roupa já dentro do banheiro. Tomou uma ducha demorada, olhou para as mãos e pensou "Ainda bem que fiz as unhas hoje".
Saiu do banho enrolada em sua toalha verde e mentalizando a roupa antes de chegar ao quarto.
Vestiu uma calça branca, uma blusa com listras horizontais, azul e branca e um sapato alto azul marinho.
Phillip já estava esperando por Carolina.
- Oi, vamos? - falou Carolina beijando Phillip no rosto.
- Vambora!
Chegaram num restaurante iluminado por luzes pisca-pisca. Carolina não fazia ideia do que era, mas achava que era algo inusitado, como deveria ser os encontros com Phillip. 
E antes que acontecesse algo, Phillip falou.
- Olha, Carol, esse lugar é para animar você um pouco, mas é só uma brincadeira, não quero que leve nada a sério aqui. Estamos entendidos?
- Não... - falou Carolina, querendo rir.
Carolina já imaginava o que vinha por aí, pois leu uma placa logo que entrou no restaurante, mas fez questão de passar que não estava sabendo de nada.
- Estou falando para você se divertir, se levar cantada, você não aceita.
- Cantada? Estou tão linda assim, Phill?
- Você está sempre linda... É só um aviso. 
- Hmmm, acho que alguém é ciumento! - falou Carolina, se divertindo.
- Não sou ciumento, sou protetor.
E os dois caíram na risada.
Os dois entraram numa sala que já haviam outras pessoas nela. Dois minutos depois, uma mulher apareceu para pedir que todos se encaminhassem ao salão.
Phillip e Carolina foram separados. Lá, escolheram suas mesas. O grupo era composto de doze pessoas. 
A mulher comunicou com um microfone em mãos:
- Boa noite, meus queridos, vocês estão no Speed Dating* e terão quatro minutos para achar a sua cara metade. Calma!!! Pesquisas revelam que não bastam mais de três minutos para que uma pessoa saiba se rolou química, então, coloquem a lábia para fora e divirtam-se! -finalizou a mulher, saindo do salão rodopiando o corpanzil.

"Parecia show de rodeio. Cuidado para não ser atacada com um beijo inesperado"pensou Carolina.
Carolina olhou para Phillip, que estava rindo e fazendo careta para Carolina e ela retribuiu fazendo um sinal com o dedo cortando o pescoço, dando a entender que iria matá-lo quando o encontrasse cara a cara e cerrou os dentes. 
A mulher então com um vestido todo pink, toca o sino, sinalizando o começo do evento.
Logo de cara, Carolina recebeu um rapaz tímido, magro e de estatura mediana. 
Carolina tomou a inciativa perguntando ao rapaz se encontraria sua alma gêmea naquele tipo de evento.
Ele, com a cabeça baixa e segurando os óculos, falou que era o único jeito de conhecer, pois não tinha facilidade com o sexo oposto.
Carolina deu uma de irmã mais velha e tentou fazer com que o rapaz não se sentisse tímido e apontou para uma menina, que seria a versão feminina do rapaz. 
- Talvez aquela menina seja sua alma gêmea. Combina contigo. 
O rapaz olhou de relance, concordando com Carolina.
- É, talvez você esteja certa. Acho que você está aqui só para se divertir.
- Você acertou, estou mesmo apenas por diversão, mas vou torcer por você.
- Qual seu nome? - perguntou o tímido rapaz.
- Carolina.
- Um bonito nome. O rapaz pronunciou o nome de Carolina de trás pra frente.
- O que é isso? - perguntou Carolina.
- Apenas uma mania. Seu nome de trás pra frente é Anilorac.
Toca o sino.
Desta vez, sentou em sua mesa um rapaz alto e bastante expansivo. Usava uma daquelas camisas em V, com decote bem exagerado e músculos aparentes.
- Olá, gatinha. Você é linda, sabia? Como se chama?
- Fernanda. - mentiu Carolina.
- Fernandinha, seu batom vermelho está de arrasar! Gosto de mulheres com atitude. Por que ainda não tem namorado? Não acredito!
Nessa hora, Carolina deu uma espiada em Phillip e trocaram olhares. Phillip fazia cara de porre e piscava para Carolina, enquanto ela fazia sinal com o polegar pra cima, fazendo Phillip fazer cara feia.
Carolina começou a rir.
- Poxa, gatinha, vai terminar o tempo e você me traindo, se já está assim, não vai dar certo.
Toca o sino.
Desta vez, Phillip é o sorteado. Ele encara Carolina com aqueles belos olhos azuis e pede para que ela fique calada. 
- Vamos apenas nos observar. - ele fala.
Carolina observa atentamente o rosto de Phillip que tem três sinais castanhos na bochecha, uma embaixo da outra e uma pequenina embaixo do olho direito, observou sua pequena boca, o lábio superior um pouquinho maior e os olhos claros que pareciam o mar de Atenas. Ele era lindo e tinha um olhar muito sedutor. Carolina às vezes gelava com aquele olhar. Phillip estava fazendo isso nesse exato momento, quando Carolina desviou o olhar.
- Não conseguiu. Fraca! - riu Phillip.
- O olho ardeu. - riu Carolina.
- Mentirosa!
Phillip olhava para Carolina o tempo todo, gostava das suas covinhas quando sorria, do seu olhar de assustada que fazia quase o tempo todo, da sua boca bem delineada e de seus olhos cor de mel. Ela também tinha uma pequenina cicatriz no canto da boca. E seu cabelo a fazia ainda mais bela; cheios e revoltos. Mas, gostava especialmente quando ela desviava o olhar. Sabia que ele estava mexendo com ela e isso era bom. Talvez a peça em namoro, talvez ela já saiba disso, talvez o futuro o diga o que fazer.
Toca o sino.
Senta um rapaz de cavanhaque, bem vestido e perfumado. Carolina brinca, dizendo que sentiu o perfume dele a distância.
Ele ri numa pose de modelo de revista e fala:
- Sou muito vaidoso. Não que isso atrapalhe minhas conquistas, mas o homem precisa ser cuidadoso com a aparência.
- É mesmo? Você quer aparecer mais que a sua parceira? - Carolina se diverte.
- Claro que não, assim como eu sou na vida social, sou na vida profissional. Só quero passar uma imagem asseada.
- Você é metódico, então?
- Um pouco. Sabe, um homem em minha posição, requer uma mulher que entenda o que eu esteja falando e seja séria. 
- Hum hum. - sussurrou Carolina.
- Sou gerente geral de uma multinacional, tenho um bom carro, tenho um apartamento que cuido com destreza, minhas empregadas no caso, faço muitas viagens, preciso de alguém que aguente meu ritmo de vida.
"Nojento! Deus me livre ficar com um homem desses. O que adianta ter grana, se é um mané?" - pensou Carolina.
- Acredito que irá encontrar. - Carolina não deu muita trela e olhou em direção a Phillip que estava conversando animadamente com uma mulher loira.
- A mulher com que...
Toca o Sino.
Phillip quase senta na cadeira a frente de Carolina, mas um homem grandalhão passa sua frente.
- Oi.
- Oi. - respondeu Carolina.
- É a primeira vez que faço isso, estou um pouco nervoso.
- Não precisa estar.
- Uns amigos fizeram uma aposta comigo.
- Eles estão aqui? 
- Não no encontro, mas estou no bar lá embaixo.
- E que tipo de aposta fizeram? 
- Acham que não vou arranjar nenhuma namorada, nem uma mordida de mosquito.
- Mas porque tanta negatividade?
- Desculpe falar, mas nenhuma mulher presta!
- Nenhuma? - Carolina ficou chocada.
- Sim, nenhuma. Elas só querem saber de homem rico, bonito e popular.
- Hmmm, acho que você está um pouco enganado.
- Não estou não! 
- Você tem futuro, pensando assim... - falou Carolina azeda - Mulher não gosta de homem inseguro.
- Viu? Não falei... Você, você me namoraria? - perguntou, atropelando as palavras.
- Mas, é claro que sim! - mentiu Carolina e pensou: "Nem se só houvesse você no mundo, meu bem!"
Toca o sino.
Desta vez, um rapaz de rosto quadrado, bem masculino, com barba bem feita e cabelo cortado estilo militar, se apresentou. Carolina ficou impressionada com o modo do rapaz.
- Você é militar?
- Não, sou bombeiro. 
- Bombeiro? Acho que nunca conheci um.
- Que bom que sou o seu primeiro - riu o bombeiro.
- É um trabalho que precisa ter amor para exercer. Acho bacana.
- Muito amor, não é qualquer um que aguenta o ritmo.
- Posso imaginar - falou Carolina.
Do outro lado do salão, Phillip olhava Carolina com interesse. Parecia que Phillip não estava prestando atenção em nada do que sua companheira estava dizendo. Ele se acometeu de ciúmes, viu que era um rapaz que interessou Carolina, mas ele confiava nela. 
Teria sido muita burrice se algo acontecesse, mas ele confiava em seu taco. Voltou a olhar Carolina, que agora ria junto com o rapaz, de algum piada, parece.
Tocou o sino.
A organizadora do evento pediu para que todos prestassem atenção a ela. 
Falou em alto e bom som que todos serão comunicados se houvesse algum interesse de algum casal. Pediu para que todos entregassem suas fichas e que se quisessem poderiam permanecer no local, no andar debaixo, onde ficava o bar. Todos se cumprimentaram e foram embora.
Phillip foi até Carolina e a beijou no rosto.
- Gostou da minha ideia maluca?
- Eu adorei, me diverti muito, cada peça que se apresentou. Mas, porque ideia maluca? - riu Carolina.
- Vai que algum desses caras se interesse por você e você também, estou praticamente arruinado!
- Bem, pode ser que aconteça sim... Até porque, você não é meu namorado! - provocou Carolina.
- Não, né? Realmente não sou. - aquietou-se Phillip.




* Evento para promover encontros amorosos.

25 setembro 2012

14 - Biblioteca


Carolina e Phillip resolveram dar uma pausa em seus encontros. Não por falta de vontade, mas por falta de tempo mesmo. Phillip precisou resolver umas pendências referentes ao seu trabalho, viajando para São Paulo, enquanto Carolina passava mais tempo com a família. Ele ligou para avisá-la no mesmo dia que soube que iria viajar e que voltaria no fim de semana a tempo de vê-la.
Carolina ficou triste, mas animada por ouvir que ele queria voltar logo para sair com ela. Ele bem poderia ficar na cidade, do tanto que já ouvira falar que a noite de São Paulo era agitada e bacana.  
Animada, Carolina resolveu colocar as coisas em ordem no trabalho. Era organizada e queria tudo arrumado até segunda-feira. Queria ocupar o tempo para não sentir tanta falta de Phillip.
- Resolveu levantar poeira, Carol? - indagou Sara.
- Levantar e depois tirar, está tudo muito bagunçado por aqui.
- Estava muito ocupada pensando, né Carol? - riu Sara.
- Isso me atrapalhou um pouco, preciso admitir. - retribuiu o sorriso Carolina.
Carolina trabalhava em uma Biblioteca, em um prédio de dois andares. Seu local de trabalho fica no primeiro piso, lidando com o público e com os livros. A Biblioteca era muito assídua, pois era a única no bairro. Sara trabalhava junto com ela, juntamente com outros funcionáriosespalhados pelo prédio. 
No 2º andar; duas salas que eram alugadas para alguns cursos ou eventos rápidos. Então, sempre tinha gente para lá e para cá. O horário de expediente de Carolina era normal, mas o 2º andar ficava aberto até às 22 horas.
Em algumas épocas a Biblioteca era mais calma, especialmente na época de férias dos colégios, mas o 2º andar; não.
Carolina tinha que catalogar os livros que chegaram e ainda não tinha feito esse trabalho. Catalogar no sistema operacional, organizar os livros nas estantes e dar baixa nos livros entregues. 
Sara não a ajudava nisso, pois o trabalho dela era outro, era bibliotecária mais parecida com uma professora, estimulando a leitura, ajudando as crianças com a internet e fazendo programas voltados à educação. As escolas estavam sempre enviando seus alunos para a Biblioteca e Sara era a encarregada de ficar com eles. Ela tinha a maior paciência com os baixinhos enquanto Carolina não tinha muito tato com eles. Eles abusavam dela, ficava boba com eles.
Celso, o rapaz que fazia a parte de arquivismo estava sempre por perto. Era um mulato alto e magro, divertido e muito competente, nunca deixava brechas em seu trabalho e não gostava que ninguém se metendo em sua função, mas fazia Carolina e Sara rirem e era isso que importava, um ambiente amistoso. 
- Carinho! Já falei, não precisa arquivar nada. É só me avisar. - falou Celso.
Celso tinha uma irritante mania de chamar a todos de 'carinho', podia ser o carteiro, o cachorro de rua, o dono da Biblioteca, não importava, ele chamava.
- É que resolvi tirar tudo da mesa e seus arquivos estavam aqui, resolvi eu mesma arquivar, para facilitar. Desculpe, não farei mais, ok?
- Ok, carinho. Me deixa voltar para o meu trabalho, pois preciso ligar para aquela secretária da outra biblioteca, a que parece ter um ovo na boca. Ela precisa de um fonoaudiólogo urgente! - esbravejou Celso, saindo da sala sem olhar para Carolina.
As duas meninas que faziam a limpeza do local soltaram um grande suspiro de desprezo e continuaram com a faxina. As duas estavam sempre juntas e isso geralmente se transformava em fofoca. Mas, Carolina e Sara, não davam muita trela para elas. 
A chefe de Carolina aparecia pouco, dando mais liberdade para ela. O telefone era tranquilo. Às vezes, Carolina andava pelos corredores da biblioteca, caçando algum livro interessante ou observando as pessoas. Ela sempre estava com algum livro na mão, emprestado da biblioteca.
Já estava na hora de ir embora, quando resolveu ligar para Luca e convidá-lo para se encontrarem no bar ao lado, tomar alguma coisa e conversar. Luca já estaria em casa a essa hora e acertou o horário para o encontro. Chamou Sara para irem juntas, mas Sara não podia ir, tinha outro compromisso. Carolina foi até o banheiro, que estava cheirando a lavanda e passou um batom, alisou os cabelos com as mãos e foi.
Às 18 horas, Carolina já estava esperando por Luca e bebendo seu singular suco de abacaxi, quando chega Luca com seu chapéu panamá preto, sua bolsa tiracolo e muito afobado.
- Menina, você não sabe o que aconteceu!
- O que?
- Vi seu ex-namorado pelas redondezas.
- O que ele estava fazendo? - perguntou Carolina surpresa.
- Ah, o que você acha? Exibindo-se com aquela moto patética para as garotas. Tinha uma, inclusive, que estava praticamente esfregando-se nele.
- Deixa ele, que aquele maldito não venha encher minha paciência... - falou Carolina mexendo a boca e formando duas covinhas na bochecha.
- Tem outra coisa também. Ah, uma cerveja, por favor! - pediu Luca ao garçom que aparecera para anotar o pedido.
- O que? -perguntou Carolina curiosa.
- Me irritei no trabalho. Aliás, me irrito sempre. Não sei lidar com gente folgada e sem senso de humor.
- É ainda aquela lá?
- Sim! Ela é ótima quando está de bom humor, mas se irrita fácil e sempre sobra pra mim. 
- Dá uma ignorada nela, Luca. Isso fará bem a ela e a você.
- Talvez... Olha, comprei dois biscoitos da sorte quando estava vindo para cá. Escolha o seu - falou Luca segurando os biscoitos em cada mão.
- Você lavou essa mão? - Carolina riu.
- Claro que sim, né? Aff!
- Hmmm, ok. - Carolina fechou os olhos e tocou em um dos biscoitos.
- Vamos abrir juntos, Carol!
- 1, 2, 3... Já!
Leram os seus biscoitos. Luca não ficou muito satisfeito e com isso, não comeu o biscoito, jogando na mesa com raiva. 
- Palhaçada! - esbravejou.
- O que deu no seu?
- "A vida trará coisas boas se tiveres paciência". - falou com deboche Luca.
- Viu? Paciência é tudo nessa vida. - riu Carolina.
- Amiga, então se for assim, nada virá, porque minha paciência explodiu há tempos!
- O meu deu: "Não há que ser forte. Há que ser flexível". Hmmm, nada mau.
- O Phillip ligou? - perguntou Luca.
- Ainda não, acredito que vá me ligar à noite. E você?
- O que tem eu?
- Ué, sua paquera...
- Ele ainda não se decidiu se quer meu corpinho moldado por comida saudável ou minha mente. É tão confuso se decidir?
- Acho que ele está fazendo jogo duro, Luca.
- Eu é que vou acabar jogando uma coisa dura na cabeça daquele palhaço.
Os dois riram. 
Já em casa, Carolina se atirou no sofá macio que o pai acabara de comprar. 
"Realmente, valeu a pena ter trocado a mobília, esse sofá é pura massagem", pensou.
Abriu a bolsa para pegar o celular e haviamtrês chamadas de Phillip e exasperou-se:”Caramba!".
Mas, antes que pudesse ligar para Phillip, Miguel veio correndo em sua direção, pulando em cima dela.
- Oi, meu bem! - cumprimentou Carolina.
- Você demorou, onde estava? - perguntou o irmão, abrindo a bolsa de Carolina, a procura de algo.
- Eiii, tira a mão daí, não trouxe nada para você! - falou dando um tapinha na mão de Miguel e pegando o irmão pelo quadril, deitando ele no sofá e o enchendo de cócegas. Miguel odiava quando Carolina fazia isso, mas pelo menos ele pararia de fuçar em suas coisas.
- Ahhh, caramba, para, por favor! - implorava Miguel, quase aos prantos.
- Só se disser que me ama! 
- Não vou, sua bruxa! Me largaaaaaaaa!
- Fala, anda!!! - ria Carolina.
- Eu te amo, sua bruxaaaa! 
- Eu também te amo, seu malinha! - Carolina ria, balançando os cachos de Miguel.
Os dois começaram a rir. Miguel chorava e ria ao mesmo tempo, mas mesmo assim, amava a irmã. E gostava quando ela chegava em casa.
- Estava com o Luca, batendo papo, o que você fez até agora?
- Estudei um pouco, depois fui jogar videogame. - Miguel fez careta pra Carolina.
- Hmmm, depois do banho darei uma olhada nisso, hein?
- Pode olhar! -falou Miguel dando de ombros.
- Cadê papai? - perguntou Carolina.
- Foi até a casa da vovó pegar alguma coisa, ele não falou o que era... 
- Tá bom, me deixa fazer uma ligação aqui, depois nos falamos.
- Ok! - correu Miguel para o seu jogo.
Carolina procurou por Agatha e a achou no quarto deitada em sua cama, sentou perto dela para fazer um carinho e pegou o celular. Apertou o nome do Phillip que já estava em seus favoritos e desligou logo em seguida. Ficou insegura. Mas numa coincidência terrível, seu celular tocou e era Phillip.
- Alô, Phill? - Carolina entoando uma voz meiga.
- Oi, Carol, tudo bem com você? Não consegui entrar em contato...
- Estava com o celular na mão para ligar para você, mas você se apressou - riu Carolina.
- Estamos em sintonia! Fiquei praticamente a tarde toda resolvendo as coisas esó agora pude descansar, quer dizer, há uma hora, quando liguei para você.
- Estava com o Luca, resolvemos bater um papinho depois do trabalho.
- Ah, que bom, pelo menos alguém está se divertindo! - falou num tom meio irônico.
- Uma diversão e tanto, eu posso dizer. Luca é muito divertido.
- Vou querer conhecer esse rapaz, hein?
- Sim, senhor. Mas se você não passar no crivo dele, você estará enrascado!
- Phillip Spencer, o homem mais sortudo do mundo, prazer! Acho que ele vai gostar disso, o que acha?
- Acho que o senhor é muito do metido!
- Não é o que as meninas do trabalho dizem... - falou sério. - Tá! Parei! – riu Phillip.
- Hmmm, sem graça!
- Carol, vou precisar jantar, estou até agora sem comer nada satisfatório. Vou aproveitar e comprar alguma coisinha de Sampa para você.
- Um presente, Phill? Puxa, vou adorar. Agora você me deixou curiosa!
- Ãhn Ãhn, foi por isso que falei, sei que você é bem ansiosa. Nos falamos depois?
- Claro. Vai lá, bom apetite, um beijo.
- Outro pra você. - quando estava prestes a desligar, Phill gritou: - Ah!! Sonhe comigo e não caia da cama, por favor!
- Sempre! E se despediram.

24 setembro 2012

15 - Pôr do Sol


Mesmo depois de ter falado com Carolina ao telefone, Phillip ainda estava pensando no que ela dissera no Speed Dating"Você não é meu namorado...".
Queria muito pedir Carolina em namoro, como deveria ser. Ter toda a certeza e ela também de que estariam comprometidos. Mas queria algo marcante, algo que a impressionasse. Phillip gostava do resultado dos encontros que fazia com Carolina. O longo sorriso com aquelas covinhas e a maneira que ela mexia os cabelos quando ficava sem graça o deixava entorpecido. Realmente, achava mesmo que estava apaixonado.
"Phillip foi flechado, quem diria." pensou ele.
Phillip estava no aeroporto, fazendo um lanche e esperando a hora de ir embora, era uma hora da tarde e assim que chegasse, buscaria Carolina para um passeio. Seria um ótimo momento para expressar seus sentimentos para sua amada.
Enquanto esperava, abriu a mochila para ter certeza que o presente dela estaria ali, não queria esquecer. Assim que seu voo foi anunciado, ele se levantou. Era o primeiro a chegar à fila.


Carolina estava no trabalho, fazendo as arrumações e esperando a ligação de Phillip a qualquer momento. Ele não saía de seu pensamento, mas fazia de tudo para espalhar isso com muito trabalho.
Por volta das 15 horas, Phillip liga para Carolina.
- Carol, oi! Já estou no Rio e doido para ver você. Vou te buscar em 1h. - falou Phillip apenas informando.
- Mas eu ainda estarei no trabalho! - respondeu Carolina.
- Inventa alguma coisa então, preciso falar com você. 
- Ai, Phill!
- A, B, C. Se eu não achar você em sua casa, busco você no trabalho, que tal? - riu Phillip.
- Você é quem manda! 
E desligaram. Carolina foi correndo até Sara contar a novidade. 
- Sara, o maluco do Phill me ligou dizendo que em uma hora estará lá na minha casa para me levar a algum lugar, o que eu faço?
- Você vai, ora!
- Mas como vou sair, estarei aqui ainda!
- Carol, pode ir, está calmo hoje e qualquer coisa, eu e Celso seguramos a barra. Amiga, se ele quer te ver, ele vai te ver, simples assim.
- Não sou um cachorrinho que o dono pega pela coleira e obedece.
- Ah... Até parece! Para de drama. Quem dera se fosse comigo, você estaria falando com um espectro agora. - Sara riu de Carolina fazendo drama sem razão. E continuou - E se alguém perguntar por você, falo que teve uma emergência. Dona Berenice não vai aparecer hoje por aqui, só segunda!
- Hmmm, tá bom! - correu em direção a Sara e deu um beijo em sua bochecha.
- Ótimo passeio e bom fim de semana! - gritou Sara.
- Pra você também! - Carolina pegou sua bolsa e fechou a porta da biblioteca com estridência.
Carolina olhou para o relógio: 15.39h. "Ainda dá tempo", pensou.
Assim que Carolina chegou em casa, correu para o banheiro para tirar todo aquele suor. Tomou uma ducha rápida, saiu correndo do banho enrolada em sua toalha verde e foi direto para o quarto. Reparou que não tinha ninguém em casa, para variar...
Carolina perdeu minutos preciosos desembaraçando e penteando os longos cachos. Quando terminou, escolheu uma roupa leve, pois fazia muito calor. Pegou um short branco, uma blusinha de manga curta rosa estampada com um pássaro, um cinto trancinha caramelo, uma sapatilha amarela e os vestiu. Borrifou seu perfume em partes estratégicas; nunca, pescoço, pulsos, nas dobras dos cotovelos e um pouquinho na ponta do nariz. Escolheu um batom claro e realçou os olhos com um rímel para os cílios. Olhou-se no espelho e se sentiu muito bem. Foi dar um beijinho em Agatha, pegou sua bolsa tiracolo e desceu para esperar Phillip. O relógio batia quase 16 horas.
Assim que desceu, viu a Land Rover chegando. Não esperou nem meio segundo e correu para ele.
- Oi. - Carolina falou abrindo um sorriso. - Saudade!
- Oi. - respondeu Phillip abraçando Carolina. - Vamos para a praia! - prosseguiu. E zarparam, fazendo cantar o pneu. 
Conversaram sobre a estadia de Phillip em São Paulo e das arrumações que Carolina fizera no trabalho e em casa.
- Tirei esse tempinho para dar uma geral no trabalho e em casa. - contou Carolina.
Enquanto conversavam, Carolina admirava a vista dos bairros que percorriam, até chegar finalmente no local de destino: Ipanema.
- Muito tempo que não vinha para essas bandas. - falou Carolina encantada.
- Sabe que eu também não? Ultimamente tem sido tudo tão agitado.
- A gente se esquecedecomo é bonito esse lugar, parece que estamos em outro país! - exclamou Carolina.
- Parece mesmo! É muito bonito.
Phillip estacionou o carro próximo ao Posto 9. Phillip vestia bermuda xadrez, uma camisa branca e um sapatênis. Estava bem à vontade e feliz. 
Pararam numa barraca na orla e pediram águas de côco bem geladinhas. Enquanto tomavam, caminhavam pela orla, admirando a vista e observando as pessoas. 
- A água deve estar quentinha agora, né? - perguntou Carolina.
- Acredito que sim... Você quer testar?
- Queria sim, mas não agora. - falou Carolina, bebendo sua água.
Enquanto caminhavam em silêncio, Phillip foi direcionando sua mão até a mão de Carolina e sem alarde, a segurou e a apertou com firmeza. Carolina deu um sorriso de felicidade sem olhar para Phillip, imaginando que ele estaria fazendo o mesmo. E assim foram, caminhando de mãos dadas vislumbrando aquela praia maravilhosa.
- Vamos até aquela pedra? - perguntou Phillip apontando para a pedra do Arpoador.
- Não é perigoso, Phill?
- Claro que não e mesmo assim, você está comigo, nada irá acontecer.
- Então vamos, vamos sim! - falou Carolina radiante.
Assim que chegaram às pedras do Arpoador, Carolina estendeu uma pequena canga e se sentou, Phillip fez o mesmo, ficando lado a lado e sem esperar muito, entregou o presente para Carolina. O embrulho era muito bonito, uma caixinha azul pequena com um laço dourado. Só a caixinha já tinha encantado Carolina. Ela abriu cuidadosamente o embrulho e se deparou com um belo colar dourado bem delicado com um pingente de coração alado cheio de pequenos brilhantes. 
"Parece que é de ouro de tão delicado que é. Não acredito, é lindo!", ela pensou.
Carolina sorriu encantada. Achou lindo. Phillip, então pegou o colar de suas mãos e com toda a delicadeza colocou no pescoço de Carolina, antes, porém, ajeitou seus cabelos para um lado. Carolina sorria para o horizonte, enquanto a vontade de Phillip era beijar aquela nunca cheirosa e macia.
- Me deixa ver como ficou. - falou Phillip.
Carolina colocou a mão no pingente e feliz, mostrou para Phillip, que falou:
- Aposto que ficou lindo! É um belo presente. Obrigada, Phill, eu amei!
- Ficou muito bem em você. Acho que soube escolher algo que lhe agradasse. Não sou muito bom em dar presentes... - falou Phillip.
- Você não teve nenhuma ajuda?
- Nenhuma! - falou Phillip apertando os lábios. Era mentira, pois ele pedira ajuda a vendedora da loja, que oferecera várias opções e o escolhido tinha sido esse, logo de cara.
- Carol?
- Que?
- Sabe, fiquei pensando muito no que você disse outro dia no Speed Dating... 
- O que foi que eu disse? - perguntou Carolina.
- Disse que eu não era o seu namorado.
- Ah... - Carolina ficou sem graça.
- Essa viagem que eu fiz, pude colocar os pensamentos em ordem e percebi o quanto você me fazia falta.
- Sério?
- Seríssimo. Sabe, Carol, eu fiquei um bom tempo sem pensar nessas coisas, porque queria foco no trabalho. Depois do que penei por causa da Luciana, me dei um tempo. Praticamente um ano sabático.
- Sei... Eu imagino como se sente, Phillip.
- Imagina? - Phillip ficou surpreso. - Bem... Então, depois que conheci você, vi que realmente podia tentar, tentar achar algo que eu realmente me importasse. Digo isso em relação a alguém. Pois meu trabalho é importante, mas faltava algo a mais.
Carolina o observava atenta, pegando refúgio no pingente de seu colar.
O sol estava quase se pondo. As pessoas se aproximavam, todas olhando para o horizonte, esperando o show do pôr do sol começar.
- Eu queria que esse dia fosse especial, por isso trouxe você até aqui. Aqui é um lugar que vinha sempre quando era criança, com meus pais. Marcou-me em um certo ponto.
- É lindo mesmo, estou adorando a vista e sua companhia. Adoro tudo quando...
Carolina não conseguiu terminar a frase, pois foi surpreendida com um beijo suave e apaixonado. Carolina retribuiu com bastante paixão, cedendo finalmente aquele beijo tão esperado. Phillip a beijava e acariciava seus cabelos macios, deixando-a arrepiada.
Enquanto isso o sol estava quase sumindo e as pessoas ao redor batiam palmas envaidecidas com tamanha beleza.
Phillip e Carolina enfim selaram sua paixão, pararam um pouco de se beijar para olhar o que todos estavam olhando e sorriram um para o outro.
Phillip pegou as mãos de Carolina e num movimento rápido, perguntou:
- Você quer ser minha namorada?
- E você precisava perguntar isso, Phill? É claro que sim, meu bem!
E se beijaram novamente, desta vez com mais intensidade, fazendo com que as pessoas que estavam próximas batessem palmas e dessem gritinhos de "Uhull", "Aêêê", para o novo casal.

21 setembro 2012

16 - Susto


Nos altos de seus 29 anos, Phillip nunca tinha conhecido até então, uma pessoa maquiavélica e cruel e se admirou em dizer seu nome em voz alta: Luciana.
Phillip se lamentava, pensando em como fora estúpido em acreditar em cada palavra que ela lhe dera nestes últimos três anos juntos. Ela era vil e ambiciosa, mas não uma ambição comum a todos, mas uma ambição raivosa, desesperada. Ela queria lucrar com a infelicidade dos outros. Ela não estava ligando para o que Phillip pensava. Ela queria se dar bem, usar os outros, sem pensar que isso um dia poderia prejudicá-la.
Depois de um final de semana divertido e romântico com Carolina, veio o susto, a decepção. Sabia que aquilo que estava lendo era irreal e repetiu uma parte da carta, incrédulo: 
"... propor a presente: Ação de Alimentos contra: Phillip Parker Spencer...".
Luciana grávida? Sim, pode ser, mas aquele filho não era dele, mas também ficou confuso, não estava pensando direito. Resolveu deixar a carta em cima da mesa e foi buscar um pouco de água. Bebeu num gole só, sem ao menos sentir a água percorrer sua garganta seca.
Pegou o telefone, discou um ramal e pediu para que a pessoa do outro lado da linha viesse a sua sala, imediatamente.
Otto apareceu logo em seguida. Era um sujeito que parecia ter saído de uma série policial. Forte e alto, estava ficando calvo nas têmporas, mas raspava o cabelo para disfarçar, tinha um humor ácido e estava sempre divertindo a turma do trabalho. Ele era o melhor amigo de Phillip.
Phillip então sem falar nada, mostrou a notificação que recebera, para espanto de Otto. 
- Que isso, cara! Que porra é essa? - falou Otto, sem nenhuma formalidade.
- Não sei, cara, ainda estou querendo entender.
- É seu? - perguntou Otto, entregando a carta para Phillip.
- Não sei...
- Não sabe? Como assim, não sabe? Você precisa saber, cara!
- Depois de um tempo separados, eu e Luciana nos encontramos umas duas vezes.
- Ah, cara, não acredito, depois de tudo o que ela fez, vocês ainda transaram?
- Não me julgue, ok? Fui fraco, ela ainda é bonita, não é? Ela se insinuou, eu não resisti, sei que fui fraco, mas agora já era.
- Usou camisinha?
- Não lembro direito, a gente sempre bebia nas vezes que nos encontrávamos.
- Cara, nunca vou esquecer uma vez que ela falou para mim e para você, num bar lotado com todos os nossos amigos, que engravidaria de você, mesmo que estivesse bêbado, lembra disso? 
- Não! Você desenterra cada coisa!
- Tudo o que eu ouvir e que possa ser usado contra alguém, eu vou me lembrar - falou Otto em um tom debochado.
- Quando foi a última vez, Phill?
- Me deixa ver... -falou Phillip, pegando a agenda e folheando as páginas.
- Você anota essas coisas na agenda? Precisa se preparar melhor, né? Depilação, barba, cabelo e bigode, é um processo demorado! - debochou Otto.
- Porra, Otto, tô nervoso, cara!
- Foi mal, só queria dar uma animada. Eu tenho certeza que esse filho não é seu. Luciana não presta e ela espalha isso para todo mundo. É cobra criada!
- Estou olhando na agenda, porque a última vez que nos encontramos, eu estava visitando um cliente, ela me ligou nesse dia e ficamos num bar ao lado deste prédio.
- E por que você guardou isso?
- Porque ela me disse que o primo dela trabalhava nesta empresa.
- O primo? Ela tem família, essa desgraça?
- Por incrível que pareça, sim. Por isso guardei o nome. Só preciso achar a data... Aqui! Achei! Foi há exatos três meses. - falou Phillip apontando o dedo várias vezes em cima da data na agenda.
- Será que ela está de três meses? - perguntou Otto.
- Vou ligar para ela agora!
- Epa... Calma, irmão! Muita calma!
- Eu terei, Otto, eu terei.



No mesmo dia que Phillip leu a notificação de Luciana, ele iria se encontrar com Carolina no escritório para depois saírem, mas tinha esquecido completamente disso e quando ainda estava nervoso e remoendo tudo o que Luciana dissera ao telefone, recebeu uma chamada de Ana, informando que Carolina já o estava esperando.
Carolina estava esperando por Phillip, sentada no aconchegante sofá da recepção, segurando sua bolsa no colo, olhando as pessoas e visualizando como deve ser o dia a dia naquele escritório que tinha uma decoração na maior parte branca, com quadros coloridos. 
Viu os funcionários para lá e para cá, todos com certa ansiedade em cumprir suas metas e irem para as suas casas.
Na recepção, uma moça com seus 20 e poucos anos de cabelo estilo joãozinho, muito bonita, maquiagem bem feita e a pele clara, atendia as ligações e recebia os visitantes. Ela ficava do outro lado de uma grande bancada oval. O sofá ficava ao lado e na frente dele, uma máquina de café expresso e de água. Ali, pelo visto ficava o cantinho da paquera, do papo e das fofocas.
Quando esperava por Phillip, duas funcionárias pegavam café, seguidas por dois rapazes que se juntaram ao grupo. Carolina prestou atenção.
- Já sabem o que rolou no escritório hoje? - perguntou um rapaz.
- Não, o que? Qual a fofoca desta vez? - falou a outra.
- Phillip batendo boca ao telefone com a Luciana.
- Ãh... E no que isso é novidade?
- A novidade está no enredo. - riu o outro.
- Ai, meu Deus, conta logo, sua peste.
- Ouvi, quer dizer, ouvimos, porque o escritório parou para ouvir...
- E onde eu estava a essa hora? - perguntou a outra funcionária curiosa.
- Vocês ainda não tinham chegado! Foi de manhã.
- Então, o Phillip vai ser papai. - os rapazes riram irônicos.
- O que? - pronunciaram em uníssono.
Enquanto isso, Carolina ficou tão chocada que levantou de um solavanco, deixando a bolsa cair, voltando a pegar e correndo para o banheiro.
- Quem é que estava sentada ali?
- Sei lá... Mas me conta, Vic. Como assim?
- O Phillip estava enfurecido, falando "esse filho não é meu, o que você quer, Luciana, você quer me arruinar?" -falava Vic imitando a voz de Phillip.
- Caramba! Eu bem acredito que aquela Luciana armou tudo!
- Que nada, é dele sim, aposto! - falou o outro.
Carolina não conseguia sair do banheiro, enquanto os outros estavam lá, esperou mais um pouco, até sentir que o caminho estava livre para ir embora ou sei lá, esperar Phillip lá embaixo. Estava envergonhada.
Abriu a porta devagar, notou que só havia a recepcionista ao telefone e saiu.
Logo depois, Phillip chegou perguntando a Ana onde estava Carolina. Ela não soube responder. "Talvez no banheiro", falou.
Foi até o banheiro e nada. Com isso, Phillip saiu porta afora.
Carolina estava nervosa e segurava a bolsa de qualquer jeito, enquanto esperava pelo elevador quando viu Phillip se aproximar. Surpreso, Phillip perguntou:
- O que houve, Carol? 
- Você não ia me contar, Phill?
- Contar? Contar o que? - se assustou Phillip.
- Para de cinismo, Phillip, eu ouvi muito bem o murmurinho que você causou no trabalho hoje. Você vai ser pai? - perguntou Carolina pronunciando com repulsa a última palavra.
- Carol, por favor, calma, soube hoje dessa notícia, iria te contar esta noite. Não seja precipitada.
- Como não ser. Estou sentada, quieta e vem pessoas fazerem fofoca com o seu nome, não posso ficar calma, ainda mais sabendo que você terá um filho com aquela mulher!
Phillip pegou Carolina pela mão, olhou em seus olhos e disse:
- Me espera aqui, ok? Vou pegar minhas coisas, me espera, que conversaremos.
Carolina estava bufando de ódio, não sabia se esperava ou ia embora de vez. Mas, parou para pensar, ia esperá-lo... Mais uma vez.

20 setembro 2012

17 - Explicação


Assim que pegou suas coisas, Phillip andou com passos largos em direção a Carolina, que estava com um semblante rancoroso.
- Eu achei que você fosse um cara decente. - falou Carolina sem olhar para Phillip.
- Mas eu sou! Por que você está falando isso? Olha para mim! - exasperou-se Phillip. 
- Me senti traída... Usada. 
- Carol, não estou te usando e não te traí. Vamos, vou te levar para jantar e te explico.
- Não, não quero jantar, estou com nojo de olhar para a sua cara! - falou Carolina.
- Posso me explicar, pelo menos? Sei que está com raiva, posso imaginar, foi a mesma sensação que tive ao ler aquela carta.
- Qual carta? - perguntou Carolina.
- Venha, vamos - Phillip pegou Carolina pelos braços e a levou até a praça.
Quando chegaram à praça, sentaram no banco, um de frente para o outro e Phillip tentou convencer Carolina que ele também estava tão surpreso quanto ela.
A movimentação das pessoas não atrapalhou a conversa do casal que pareciam estar sozinhos. Carolina não conseguia disfarçar a decepção.
- Hoje, recebi uma notificação do Ministério Público, informando que Luciana entrou com uma ação na justiça pedindo pensão alimentícia e preciso comparecer à audiência na próxima semana. Só preciso ver com meu advogado, preciso pedir uma contestação, teste de DNA, sei lá. Como ela provou isso? Essa criança nem sequer nasceu! - falou Phillip confuso.
- Mas, como isso foi acontecer? Quando a conheci, ela nem tinha barriga!
- Pois é, liguei para ela assim que recebi a carta. Ela disse que está de três meses e enjoando muito, ela frisou isso muito bem.
- Mas é seu, Phill? Por favor, diga que não é seu... - implorou Carolina.
- Carol, eu preciso ser sincero contigo...
- Mas não foi, Phill.
- Você não precisava saber de certos detalhes, que até mesmo eu queria esquecer.
- Que detalhe? - perguntou Carolina melindrosa.
- Depois que eu e Luciana terminamos, nos encontramos duas vezes, em episódios de pura coincidência. 
- Você quer dizer que se esbarraram por aí sem querer e transaram, é isso, Phill?
- É, Carol... É isso mesmo. - falou Phillip olhando para o sapato.
Carolina sentiu que estava sendo muito rude com Phillip e mudou sua atitude, pegando no queixo de Phillip e o levantando, para que olhasse diretamente em seus olhos.
- Desculpe, Phill, sei que estou sendo rude contigo, sei que isso pode acontecer a qualquer um, não quero que você pense que estou com raiva de você.
- Mas não é isso que está parecendo...
- Eu sei. Estou com raiva sim, da situação, do constrangimento que passei, por achar que você estava omitindo algo, na verdade estava, mas não podia exigir isso.
- Um dia contaria tudo para você, não achei que o momento fosse esse.
- Eu sei, Phill. Tudo aconteceu tão rápido, na hora não pensei direito, mas agora que já estou mais calma, sei que você se encontrou com ela antes de me conhecer...
- É claro, Carol, não faria isso estando com você. Você é o meu bem mais precioso, não iria perder você por causa desse ímpeto que tive com a Luciana.
- Só com a Luciana?
- Nem com outra mulher! Carol, você me conquistou desde o primeiro dia, eu só quero você e estou desnorteado com essa situação, não sei o que fazer.
- Você acha que é seu? - perguntou mais uma vez Carolina.
- Não sei, Carol, realmente não sei mesmo. Nas duas vezes que ficamos juntos, não me preveni e me parece que nem ela. Fui um tolo, estava bêbado e ela soube me conduzir direitinho.
- Ela não joga para perder... - fez um gesto com a boca, mostrando raiva.
- Mas, pode ser que não seja meu. Vou procurar o Murilo logo pela manhã.
- Quem é Murilo?
- Meu advogado! Ele vai saber me orientar... - falou Phillip pensativo.
Quando ficaram em silêncio, Carolina e Phillip pegaram um na mão do outro e num gesto rápido se abraçaram e ficaram por um bom tempo assim, sem nada dizer, só se escutava a respiração um do outro e os passos frenéticos das pessoas pela praça. Parecia que a cidade estava toda em preto e branco, igual ao sentimento que eles nutriam em relação a esse delicado assunto.