31 agosto 2012

27 - Plano


Após um final de semana maravilhoso, a semana começou com tempo nublado e nuvens carregadas. Segunda-feira já era chata e com o tempo querendo desabar, era pior ainda.
Phillip precisava ligar para o Dr. Murilo, pois tinha algumas dúvidas.
- Bom dia, Dr. Murilo. Como vão as coisas?
- Tudo bem, Phillip. Qual sua dúvida?
- O senhor já sabe que eu teria dúvidas? - perguntou Phillip surpreso.
- Sim, meu caro, já sabia. Vamos a ela!
- Dr. Murilo, uma grávida pode fazer exame de DNA?
- Bem. Poder pode, mas não é muito recomendado, vou explicar o motivo. Os métodos de coleta de material fetal são invasivos, oferecendo risco de aborto, em pouca porcentagem, mas ainda é um risco. No caso dela, se ela aceitar, será feito uma coleta viro-cordial, o Juiz aceitou, mas ela pode ainda recorrer e pedir que seja feita a coleta depois do nascimento do bebê.
- Hmmm, era o que eu temia. - falou Phillip decepcionado. 
- Sim sim, temos que estar preparados.
- E Dr., como é feito o exame? Em mim.
- É simples, um cotonete, especial para este tipo de exame, é esfregado no interior da boca por um minuto. E o resultado fica pronto de 5 a 7 dias. - explicou Dr. Murilo.
- Realmente, é bem simples.
- Sim, bem simples. Qualquer dúvida, entre em contato. Estou com outra ligação e preciso desligar. Um abraço.
- Outro abraço, Dr. Murilo, obrigado! - falou Phillip, desligando.
Phillip colocou o telefone no gancho e ficou pensativo, mas não por muito tempo, Otto foi logo abrindo a porta, querendo saber das novidades.
- E aí, cara, saiu desembestado na sexta e nem para deixar seu amigo aqui informado! - falou Otto sentando na cadeira de frente ao amigo.
- Foi mal, estava precisando dar uma escapada daqui. A audiência foi boa, mas não sei, cara. Algo não está cheirando bem. - falou Phillip preocupado.
- Se prepare depois que esse cheiro vai ser tornar de cocô, xixi, vômito... - debochou Otto.
- Para com isso, não me faça lembrar isso. Vou ter que fazer exame para saber se a criança é minha.
- Nada mais justo, não é, meu camarada. É assim que tem que ser.
- Luciana pode solicitar o exame só depois de o bebê nascer. Vou ficar esse tempo todo na agonia? Será que suporto? - falou Phillip com as mãos na cabeça.
- Consegue, cara! Você tem um ótimo passatempo! - provocou Otto.
- Você fala de um jeito como se as mulheres fossem realmente um objeto. Carolina não é o tipo de mulher que você se relaciona! - esbravejou Phillip.
- Calma, cara! Falei brincando, não desse jeito que pensou. Ok, vou deixar você com seus pensamentos. - falou Otto, saindo chateado.
Phillip parou de pensar e começou a trabalhar. Afinal, isso o faria esquecer um pouco de Luciana e suas armações. Mas, minutos depois pensou no amigo Otto e perguntou-se:
"Por que será que Otto é tão reticente com as mulheres? Será que nunca se apaixonou? Pelo o que ele me conta, nunca apareceu nenhuma mulher que o deixasse bambo. Ou talvez ele tenha se apaixonado uma vez e se decepcionado, mas e dai? Quantas pessoas já não se decepcionaram no amor e continuaram procurando a sua cara metade? Ter sempre medo de sofrer não está com nada. Olha quem fala... Logo eu que pensava a mesma coisa antes de conhecer Carol. Acho que está falando ousadia e empenho para o Otto."
Phillip pensou no tanto que Carolina falava de Sara, que era uma boa amiga e também sonhava em encontrar um namorado, um companheiro. Phillip ficou bastante curioso em descobrir se Sara conquistaria o coração de Otto. Queria ver o amigo apaixonado. E sim, seria muito engraçado ver tudo o que ele fala de relacionamentos vir abaixo, então pensou em algo, mas precisava de um incentivo e foi aí que ligou para Carolina. Phillip precisava agitar seu plano.
- Oi, amor, como estão as coisas por aí? - perguntou Phillip.
- Muito agitado, a visita das crianças é hoje. Eu e Sara estamos atrapalhadas aqui. Mas, e você?
- Estou com um plano...
- Um plano? Ai, caramba, o que é desta vez?
- Calma... É coisa boa... Ou não. - falou Phillip confuso.
- Manda!!! 
- É o seguinte. Quero ver Otto apaixonado, então pensei que ele pudesse conhecer sem querer a Sara e quem sabe... Um empurrão.
- A Sara, Phill? Mas você não disse que o Otto é um galinha?
- Bem, ele é, mas você não acha que tem algo aí? Você acha que o cara nunca se apaixonou?
- Não sei, como vou saber?
- Pois é, mas eu conheço o Otto. Isso tudo é da boca para fora, quem é que nunca quis encontrar uma namorada legal e companheira? Eu mesmo estava assim antes de conhecer você, Carol. Desiludido.
- É, mas pelo o que sei, você nunca foi um galinha.
- Não, não como Otto - riu Phillip.
- O que? 
- Otto pega mulher praticamente todos os dias, ele não se fixa em nenhuma, fala mal de todas. Nenhuma está ao alcance do grande Otto. Acho que tem um grande recalque aí, alguém o fez sofrer muito.
- E ele não disse nada a você?
- Do jeito que ele é orgulhoso, nem para a mãe ele falaria tal coisa. Ele é o cara debochado, não iria suportar debocharem dele.
- Mas você não faria isso...
- Ah, só um pouquinho, vai... Ele me zoa o tempo todo, mas não fico chateado, algumas vezes ele pega pesado, admito, mas é o jeito dele e é meu amigo.
- Não sei, não. A Sara é uma pessoa super bacana, não quero vê-la nas garras de um galinha como Otto.
- Ah, vamos lá. A Sara não é nenhuma criança, ela vai saber se defender.
- Hmmm, ok. Mas, saiba que se o Otto fizer a Sara sofrer, ele vai se entender comigo!
- Calma. Ele também vai se ver comigo, pode deixar!
- Ok, assim fico menos preocupada. E qual é o plano?
- Vou mandar o Otto ir à Biblioteca, entregar um envelope para você, só que você não vai estar aí e quem vai recepcioná-lo? - perguntou Phillip esperando resposta.
- Sara!
- Exatamente. Acho que ele vai gostar dela. Acredito que Sara faça o tipo de Otto. 
- Faz?
- Bem, é mulher, não? - riu Phillip.
- Aiii - riu Carolina - É Verdade. Eu ligo para você quando a barra estiver limpa, pode ser?
- Vou aguardar, meu amor. Quem sabe não teremos mais um casal apaixonado.
- É, vamos ver...
Os dois se despediram, mas Carolina ficou preocupada. Ainda mais sabendo que Otto era amigo de Phillip, não queria confusão, mas daria uma chance, tudo é possível. E hoje, Sara estava bem humorada e muito bonita, como sempre. Acho mesmo que Otto irá gostar dela.
À tardinha, Carolina ligou para Phillip dizendo que daria uma saída com Celso para visitar uma biblioteca. Às vezes eles faziam isso, conversavam com outros bibliotecários sobre novidades no universo dos livros. Carolina contou o plano para Celso e ele achou fantástico!
Phillip preparou um envelope grande e o encheu de papéis, em sua maioria em branco, misturado com alguns papéis que não seria mais utilizado. Otto não precisava saber disso. Lacrou o envelope e chamou o amigo para ir até sua sala. 
- Otto, será que você poderia levar este envelope no trabalho da Carol? Faça esse favor, irmão!
- Lá na Biblioteca? 
- Isso mesmo. 
- Por que você não vai? - perguntou Otto.
- Não vou poder sair porque daqui a pouco terei uma reunião com os "La Fontana", preciso preparar alguns papéis e esqueci de pedir para o mensageiro levar. Ele já foi para a rua.
- Mas o que é isso, cara? - perguntou Otto curioso.
- É um folder que fiz para o pai dela. Ele vai precisar disso hoje! - respondeu Phillip nitidamente sem graça.
- Folder? Depois você me conta essa parada, mas levo sim cara e ah... Desculpa pelo o que eu disse mais cedo. - falou Otto sério.
- Ah, cara, tudo bem, sem problemas! Já tinha até esquecido.
Assim que Otto saiu, Phillip não conseguiu segurar o riso. Pegou o telefone e ligou para Carolina, informando que Otto já estava na missão mais misteriosa de sua vida. Carolina e Phillip riram ao telefone.

30 agosto 2012

28 - Primeira Impressão


Otto pegou sua carteira e o celular que estavam em sua sala e foi fazer o que Phillip pediu. Até ficou curioso, pois finalmente conheceria a tão falada Carolina. 
Pegou um táxi, pois Otto estava sem carro.
Um trânsito lento percorria todo o caminho, mas não demorou muito a chegar.
Entrou na Biblioteca e estava tudo calmo, tirando o sino dos ventos que fez seu dever, parecia que não havia ninguém. Otto olhou ao redor e como não avistou ninguém, apenas duas pessoas que liam com afinco seus livros, apertou a campainha de mesa, aparecendo logo depois uma mulher de cabelos curtos e sorriso carismático.
- Oi, boa tarde, posso ajudá-lo? - perguntou Sara solícita.
- Sim, gostaria de falar com a Carolina - falou Otto levantando as sobrancelhas.
- Hmmm, temo dizer que ela não está. É só com ela?
- Acho que não. Na verdade, sou Otto, amigo do Phillip, o namorado dela. Vim entregar este envelope a pedido dele. Você é? - perguntou Otto.
- Sou Sara, colega de trabalho e amiga pessoal de Carolina. - falou Sara oferecendo a mão para um aperto. - Acho que não tem problema se eu ficar com ele, ou você quer voltar depois?
- Não, acho que não será necessário, você parece ser de confiança. - sorriu Otto.
Sara pegou o envelope das mãos de Otto e o colocou embaixo da bancada.
- Pronto. Está seguro agora. Espero que não seja uma bomba! - exclamou Sara alarmada.
- Bomba? - sorriu de lado Otto. - Que namorado é esse que manda uma bomba para a namorada?
- Não sei, quem me garante que você é realmente amigo do Phill?
- Agora você me pegou. Posso mesmo não ser. Tenho cara de homem bomba? - disparou Otto.
- Não tem cara, mas pode ser um espião. - Sara falou analisando Otto. 
- Um espião? Dessa eu gostei. - riu Otto.
- Só é um pouco baixo para os padrões. - Sara se divertia.
- Baixo? Sou baixo? - Otto demonstrou chateação.
- Os espiões são bem altos, mas você tem carisma, os espiões são carismáticos.
- Agora ficou bem melhor.
- Você está me enrolando, me diga. Como é o Phillip?
- Phillip? Quem é esse cara mesmo? - Otto fazendo-se de engraçado.
Sara riu e falou que Otto era muito divertido e de repente Sara sentiu uma excitação que há muito tempo não sentia e estava gostando daquilo.
- Phillip é um magrelo branquelo, de olhos esbugalhados azuis e beiços vermelhos, com alguns sinais no rosto. É esse o cara que você conhece? - falou Otto.
- Meu Deus, esse cara que você falou é horroroso, mas sim, me parece ser ele. - riu Sara.
- Você trabalha aqui há muito tempo? - perguntou Otto.
- Trabalho aqui há oito anos. Carol há cinco. Gosto muito daqui. 
- Por falar em Carolina, onde ela está?
- Ah, ela saiu com Celso, foram fazer uma visita de trabalho a outra biblioteca. Voltam logo. Celso é outro funcionário daqui. 
- Entendi. Pensei que fosse conhecer a mulher que desvirtuou meu amigo. 
- Pro lado bom ou pro mau? - perguntou Sara curiosa.
- Só ele para saber...
- Na sua humilde opinião... - insistiu Sara.
Otto apoiou os cotovelos na bancada e disse:
- Phillip continua o mesmo, só um pouco desatento. O amor não é um bom negócio para os profissionais de ideias.
- O amor não é bom? - Sara espantou-se.
- Bom é, mas de outra maneira. Os apaixonados são seres bobos, qualquer coisa ficam alheios ao mundo e só querem pensar na namorada, ou namorado. Aliás, você tem namorado?
Sara deu um sorriso de canto e não respondeu a pergunta de Otto, talvez ele quisesse testá-la, em vez disse, perguntou:
- E você nunca ficou bobo? Mais bobo? - riu Sara.
- Jamais! Sou um cara disciplinado.
- Disciplinado com o que?
- Com a minha mente sã. 
- Quanta bobagem o que você está dizendo, não sabe como é bom ter alguém, se apaixonar!
- Sei não... - falou Otto balançando a cabeça para baixo.
- Ninguém vale nada enquanto não foi amado! - falou Sara citando Tennessee Williams.
- Eu valho, eu me amo! - falou Otto convincente.
- Não posso acreditar que não acredita no amor, sendo um homem tão carismático.
- Isso não muda nada. Sou um homem como outro qualquer...
- Me dê sua mão.
- O que? - admirou-se Otto.
- Sua mão, me mostre elas.
- Para que?
- Você verá...
Otto ofereceu uma das mãos e Sara analisou cada detalhe de suas linhas. Sara tinha uma mania de ler as mãos, já tinha estudado sobre quiromancia em livros dispostos na Biblioteca e feito um curso de tarô, às vezes errava, às vezes acertava na mosca. Mas, o que mais notou foi a mão de Otto; mão morena e suave com dedos médios e grossos. Tinha uma atração por homens com mãos grandes e bonitas.
- Ahh, aqui está, já entendi tudo. Você teve uma decepção! Aliás, duas!
- Como você sabe disso? É cigana agora?
- Não importa. Acertei, não é?
- Não falei nada... Você é quem está dizendo.
- Tanto falei que você confirmou. Otto, é normal se decepcionar no amor, não é normal você ainda pensar nisso. O que ficou no passado, deve permanecer lá. Eu também já sofri e muito por amor, mas sou uma pessoa otimista.
- Não sofri por amor. Só não acho que um amor irá mudar quem sou.
- Mas o amor não muda você. O amor faz você olhar as coisas por outro ângulo. - falou Sara.
- Esse papo de amor não vai me levar onde você quer. Odeio isso, teimam em querer mudar o que penso, esse sou eu, não vou mudar. - falou Otto ríspido.
- Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. - falou Sara, agora citando William Shakespeare. - O cara que falou essa frase, sabia das coisas, pense melhor nisso.
Quando ainda estavam conversando, Carolina e Celso retornaram da visita. O sino dos ventos dedurou-os e com isso, Otto e Sara pararam de conversar.
- Olha aí, chegaram eles! - bradou Sara.
- Oi, Sarinha, tudo bem? - perguntou Carolina.
- Olá, todos! - cumprimentou Celso sorrindo amarelo.
- Carol, esse aqui é o Otto, amigo do Phill. Ele veio te entregar um envelope. - Sara falou pegando o envelope e entregando a Carolina.
- Oi, Otto, prazer! Tudo bem? 
- Tudo bem, prazer em conhecê-la. Finalmente conheci a princesa dos sonhos do meu camarada.
- Uauuu, somos seus meros servos, princesa Carolina. - Celso brincou, fazendo reverência a Carolina.
- Bem, foi ótimo conhecê-la, agora já posso imaginar seu rosto quando Phill falar de você. - falou Otto. - Agora, preciso ir, prazer em conhecê-la também, S a r a. - falou Otto pronunciando o nome de Sara pausadamente e despedindo-se de Celso, batendo em seu ombro.
- Até mais! - falou Carolina.
- O prazer foi meu, Otto! - respondeu Sara sorridente, sem demonstrar constrangimento.
E Otto saiu porta afora. Saiu da Biblioteca, foi até o meio fio e fez sinal para um táxi, olhou para o relógio e já era 5.20h da tarde e resolveu não voltar ao trabalho, iria para casa, mas enquanto isso, pensou no que Sara tinha lhe dito e ficou bem impressionado. 
- E aí, carinho, gostou do bofe? - perguntou Celso.
- Como assim? - perguntou Sara.
- Otto é bonito, imaginava outro estilo... Bonitão, hein? - falou Carolina batendo o ombro no de Sara.
- Ah, ele é bonito, mas é um homem frio, debochado e não acredita no amor!
- Amor? Vocês já chegaram a esse ponto, carinho? - perguntou Celso.
- Uma conversa foi levando para a outra, mas nada demais, gente! Vou para casa, que já está na minha hora! - falou Sara apressada.
- Já mesmo! Levo você em casa, hoje vim de carro! - falou Celso.
- Não precisa, não vou para casa, vou precisar passar na farmácia antes.
- Vou contigo. - insistiu Celso.
- Não! Depois vou a outros lugares, não precisa, obrigada Celso! 
- Ok, carinho! - falou Celso, jogando beijo para Sara.
Sara pegou sua bolsa, despediu-se de Carolina e foi embora.
Carolina e Celso olharam-se com cara de riso e disseram ao mesmo tempo: "Ihhhhhh".


29 agosto 2012

29 - Pretexto


Phillip saíra de casa um pouco atrasado para o trabalho, mas estava no lucro, pois tinha trabalhado até tarde no dia anterior, resolvendo as pendências da semana passada e com isso tinha dormido no apartamento refúgio e hoje teria mais uma reunião e mais um tempinho sem falar com Carolina, mas à noite iria matar as saudades.
Chegou ao escritório e procurou por Otto, como não achou, perguntou para Ana de seu paradeiro.
- Otto ainda não chegou, Phillip, quer que eu ligue para ele? - perguntou Ana solícita.
- Não, não precisa, deve estar no trânsito. - respondeu Phillip.
"Estranho, ele sempre chega antes de mim", pensou.
Logo o telefone tocou e Ana avisou que Dr. Murilo esperava na linha.
- Bom dia, Dr. Murilo, como vai o senhor? 
- Tudo bem, meu caro. Liguei para dizer que Luciana recorreu da decisão do Juiz. Bem, não era nenhuma surpresa, concorda?
- Sim, acredito que sim. E agora?
- Ela recorreu do exame de DNA, que acarreta risco a mãe. Então, meu caro, o jeito é esperar. Esperar essa criança nascer para só aí, fazer o exame. É o mais sensato.
- É, acredito que sim. Obrigado, Dr. Murilo. Um grande abraço.
- Manteremos contato. - falou Dr. Murilo finalizando a ligação.
Do outro lado da porta, Otto chegava esbaforido ao escritório. Tinha se atrasado porque dormira até tarde, não acordando com o despertador.
Ana avisou Phillip da chegada de Otto e com isso, foi até a sala do amigo, falar com ele.
- E aí, cara, o que houve? - perguntou Phillip fechando a porta da sala.
- Dormi demais, irmão!
- Dormiu muito ou pouco? - debochou Phillip.
- Que nada! Acho que não durmo assim há muito tempo! Nessas horas que é ruim morar sozinho, ninguém vai te acordar quando o despertador falhar.
- Mas, o que houve? - Phillip ficou desconfiado.
- Houve nada, irmão, está tudo bem! Ah, entreguei o envelope para a sua namorada.
- Ela estava lá? - perguntou Phillip curioso.
- Quando cheguei, não, depois apareceu, mas fiquei conversando com a colega dela.
- Hmmm, pensei que a Carol estaria lá. - falou Phillip disfarçando.
- Sabe, cara, antes de mais nada, Carolina é linda e você é um rapaz de sorte. E outra, que aquela mulher me deixou cabreiro. - falou Otto mexendo em sua rala barba.
- Que mulher? - Phillip ficou ainda mais curioso.
- A tal da Sara, a colega de Carolina. - falou Otto sem olhar nos olhos de Phillip.
- Sei sei, já conheço a Sara. O que tem ela?
- Conhece? Pois é, ela é muito envolvente, sei lá, não sei se a palavra é essa, mas mesmo assim, acho que ela não foi com a minha cara.
- Mas, por quê? O que você fez?
- O que eu fiz? Nada demais, porque você sempre pensa isso?
- Fala, cara, você está muito esquisito.
- Ela falou algumas coisas que me fizeram refletir... - respondeu Otto.
- O que ela disse?
- Ela de brincadeira, pegou na minha mão e leu, como uma cigana e falou que sofri duas decepções no amor e que era hora de seguir em frente.
- Ela falou isso? - Phillip ficou chocado e intrigado.
- Falou, cara, estou dizendo...
- É, truque! Ela estava brincando contigo! - falou Phillip.
- Mas isso me atingiu, sei lá. Você acha que devo voltar lá e pedir desculpas a ela? - perguntou Otto confuso.
- Desculpas? Foi grosso com ela, cara?
- Não, aquele meu jeito, né, cara? Ela pode ter me interpretado mal.
- Hmmm, se é isso que você deseja, vai nessa, irmão.
- É, acho que vou lá mais tarde. - falou Otto por fim.
Phillip ficou sem saber o que pensar. Mas achou que o plano dera certo. Sara o abalara, dera um solavanco em Otto e era isso que Phillip queria. Por hora não iria perguntar se Sara acertou em suas adivinhações, iria deixar
Otto mais a vontade para isso.
Otto apareceu de supetão no fim do expediente da Biblioteca, deixando Carolina, Sara e Celso surpresos.
Otto carregava um botão de rosa na mão e foi direto falar com Sara, pedindo para que conversassem a sós. Com a afirmação de Sara, foram para uma mesa vaga.
Celso e Carolina ficaram olhando de rabo de olho para os dois.
Otto ofereceu o botão de rosa como pedido de desculpas e começou:
- Desculpe-me, se falei algo que te chateou ontem, acho que me interpretou mal.
- Eu? Imagina, você apenas falou o que sente, o que viveu. Certas coisas você só muda enfrentando a situação de frente, sem medo.
- Posso te levar para jantar hoje? - perguntou Otto subitamente.
- Hoje? Desculpe, Otto, mas não vou poder. - falou Sara secamente.
- Amanhã? - insistiu Otto.
- Também não... - Sara falou apertando os lábios.
- Em todo caso, ligo para você depois, sei o número daqui. Agora, preciso ir. Até mais... - falou Otto sem demonstrar desapontamento.
Otto foi embora, mas só por hoje, não iria desistir de conversar por mais tempo com Sara. E Sara ficou olhando Otto sair da Biblioteca com o botão de rosa na mão e pensando no que teria acontecido a Otto.
- Hmmm, acho que alguém começou a gostar de literatura... - debochou Celso.
- Romance moderno! - riu Carolina.
- Nada disso, pessoal, ele só veio se desculpar, esse cara é muito estranho.
- Um bofe desses que eu queria... O estranho a gente corrige, carinho!
- Não estou interessada nele, ok? - bradou Sara.
- Tudo bem, Sara, vamos arrumar nossas coisas e fechar a Biblioteca. - falou Carolina findando a conversa.
Sara ficou mexida com aquele ato de Otto, trazendo um botão de rosa para ela. Jamais tinha recebido sequer uma folha, mas pensou que aquele tipo de homem, fazia de tudo para conquistar uma mulher e nem sempre era sincero, mas algo dizia que ele tinha ido de coração aberto.
"O que será que guarda aquele coração?" - pensou Sara.

28 agosto 2012

30 - Segunda Chance


Dias se passaram e enquanto Carolina e Phillip encontravam-se dia sim, dia não e indo para o refúgio aos fins de semana, Sara recebia todos os dias um convite de Otto para jantarem e Sara recusava todos eles, dando desculpas evasivas. Passado o fim de semana, Sara pensou um pouco melhor. Aquele dia seria diferente. Foi até à sala de Celso para saber sua opinião.
- Carinho, você está com medo de que? - perguntou Celso.
- Não é medo, mas a Carol já tinha me contado sobre a vida de Otto, de suas conquistas, não quero ser mais uma. - falou Sara.
- Você está apaixonada por ele?
- Não! - falou Sara convicta.
- Então, qual o problema, carinho, em ser mais uma? Você se diverte, ele também. Se não está apaixonada, bom para você.
- Não sou deste tipo, Celso! 
- É claro que não, mas sair um pouco da rotina, conhecer gente nova, faz bem para a saúde mental e para a saúde daqui... - Celso falou apontando para o órgão sexual de Sara.
- Celso! - exclamou Sara alarmada.
- O que foi, carinho? Não disse nada de errado, nada criminoso e estou completamente certo! - Celso levantou a cabeça em forma de protesto.
- Eu sei... Mas você falando assim, parece que não sei o que é isso há muito tempo... - riu Sara envergonhada.
- E parece que não sabe mesmo! Nem pensando direito você está! Deixa de ser boba, Sara, você não é nenhuma caretona. O que há contigo?
- Acho que ele me fisgou.
- Hmmm, sabia! Sabia! Está esperando o que? Aceita o convite e veja como ele se comporta. Vou ficar torcendo por você, qualquer coisa grita! - falou Celso pegando nas mãos de Sara com carinho.
E quando Otto ligou no final da tarde, Sara finalmente aceitou seu convite para um jantar, mas o alertou de que não iriam se demorar. Otto ficou feliz e pensou que se não tivesse sido insistente talvez aquele sim jamais acontecesse. Ainda bem que não desistiu.
Combinaram de se encontrar na frente do restaurante. Sara não queria entrar no carro dele, não queria ficar sem graça ao lado de Otto.
Otto acertou um horário e já estava com o carro pronto para ir. Ajeitou os cabelos no espelho da sala e saiu. Quando chegou ao restaurante, Sara já estava na porta, olhando para os lados impaciente, vestindo uma calça estampada de flores, uma blusa branca e um colar de pérolas. Um batom vermelho dava um ar sexy. Sara estava bem diferente da última vez que Otto a vira. 
- Oi, Sara, fiz você esperar muito?
- Não, acabei de chegar. Achei que você estava me observando de longe.
- Nada disso, acabei de chegar também - riu Otto.
Entraram no restaurante e a recepcionista pediu para eles aguardarem, pois o local estava cheio e ainda não tinha uma mesa vaga.
Depois de alguns minutos de espera e de um pouco de constrangimento por parte de Sara, eles encontraram uma mesa um pouco afastada do burburinho do restaurante. Uma mesa de dois lugares, que ficava ao lado de um jardim de inverno.  
Resolveram pedir um couvert antes do prato principal, Otto queria ter mais tempo para conversar com Sara, antes que se enfiassem em um prato apetitoso.
- Tenho que admitir, fiquei impressionado contigo... - falou Otto logo de cara.
- Ficou impressionado porque eu li sua mão? - perguntou Sara.
- Você chutou para o gol!
- Não, eu realmente li sua mão. Estudei sobre isso há algum tempo.
- Não acredito! - Otto estava surpreso.
- Acredite se quiser! Você vai me contar o que houve ou vou precisar abrir minhas cartas de tarô aqui para você acreditar em mim? - ameaçou Sara.
- Está com elas aí? - perguntou curioso Otto.
- Sempre as levo na bolsa, para alguma emergência.
- Sei... Não, não vai precisar usá-las, só quero que adivinhe o número que calço, daí, lhe conto.
- É 43! - falou Sara sem pestanejar.
- O que? - riu Otto. Como você sabe?
- Olhando para os seus pés, ora essa. Trabalhei algum tempo em uma loja de calçados, sei o número que a pessoa calça só de olhar. Você tem bom gosto para sapatos, por falar nisso. - falou Sara séria.
- Uau, você realmente me impressiona.
- Não vai me contar? - insistiu Sara.
- Você pode ser menos ansiosa? Vamos aproveitar o momento, não é isso que você mesma fala? - falou Otto bebendo seu chopp.
- É verdade, agora você me pegou, então ok, não vou forçá-lo a falar. Vamos falar de outra coisa.
Começaram uma conversa banal, sobre times de futebol, política e onde moravam, até Otto parar no meio de uma conversa e falar:
- Ok! Você venceu! Vou contar para você. Você é muito boa na persuasão.
- Mas eu não fiz nada! - sorriu Sara.
- Fez sim. Ignorou o que eu tinha a dizer, não deu a mínima.
- Foi você quem quis assim. - falou Sara mostrando as mãos e virando-as para ele, em uma expressão desentendida.
- Eu não sofri por amor. - Otto começou. - Sofreram por amor e eu fui atingido.
Sara ficou observando Otto sem fazer o menor movimento.
- Meus pais são separados desde os meus 11 anos. Sofri muito. Não falo com meu pai há muitos anos, eles, antes de se separarem, brigavam muito e mesmo assim nunca achei que eles pediriam o divórcio. Tenho um irmão mais velho e ele achou melhor a separação, mas, eu não!
- Seu irmão tem quantos anos? - perguntou Sara.
- Na época ele tinha 16 anos e já estava cansado das brigas dentro de casa. Agora ele está com 34 anos, eu tenho 30. - falou Otto.
- Seu irmão já entendia das coisas, já sabia o que rolava, você ainda era muito pequeno para entender.
- Mas foi o que mais sofreu. Minha mãe também sofreu, e muito! Meu pai saiu de casa e logo depois foi morar com outra mulher. Descobrimos depois que ele estava traindo minha mãe com essa mesma mulher. Eles trabalhavam juntos.
- Situação complicada. Apesar disso tudo, por que vocês não se falam mais?
- Meu pai anulou um pouco a família. Ajudava-nos financeiramente, mas em companhia e amor era totalmente nulo. A mulher dele não gostava quando eu ia para a casa deles e isso foi afastando-nos. Otávio não ia comigo, ele nunca quis ir para lá. Eu sofria na mão daquela mulher, meu pai sempre fez vista grossa.
- Otávio, Otto... Quem escolheu os nomes? - perguntou Sara tentando aliviar a conversa.
- Complicado, faço parte daquelas famílias que gostam de colocar os nomes dos filhos começando com a mesma letra. Meu pai se chama Orlan e minha mãe, Olga.
- Ahh, agora entendi o motivo! - riu Sara. - Pelo menos seus nomes são bonitos, não é nenhuma junção horrorosa.
- Pelo menos isso! Gosto do meu nome. Otto, com dois 'tês' - frisou. - Otto significa homem próspero. Pelo menos na profissão, sou bem sucedido, alguma coisa boa tinha que ter! - riu.
O garçom apareceu, perguntando se queriam fazer o pedido do jantar. Otto e Sara pediram para esperar mais um pouco, ainda estavam decidindo.
- Depois de alguns anos, quando eu já era crescido, minha mãe ficou doente, precisando de tratamento, a mulher dele proibiu que ele oferecesse ajuda, as despesas ficaram todas por nossa conta. Meu irmão já estava trabalhando e eu ainda estava terminando o segundo grau. 
- Sua mãe não trabalhava? 
- Sim, ela já era aposentada, trabalhou como bancária. O dinheiro ia para o tratamento também. Minha mãe teve câncer, Sara. Mas, ainda bem que agora está tudo bem, está sempre em alerta, fazendo exames, mas na época foi tudo muito pesado e triste.
- Foi então essa infelicidade que eu vi em suas mãos, a decepção de ver seus pais separados e o abandono de seu pai. Você pode não acreditar, mas eu vi muita infelicidade em você. No modo como você falava, na falta de esperança, isso tudo foi ruim. - falou Sara.
- É por isso que não acredito no amor, acho que tudo tende a acabar, a esmorecer, tudo termina em sofrimento.
- Não seja tão cético. Você passou por uma experiência ruim, mas isso não significa que irá acontecer com você também. Seu pai errou, mas não podemos falar com exatidão o que aconteceu antes com seus pais, o que realmente aconteceu.
- Minha mãe é a pessoa mais maravilhosa que conheço. Depois que ela teve câncer e curou-se, nunca mais falei com meu pai. Cortei relações e ele também não fez nenhum esforço em nos procurar. Acho que Otávio mantém pouco contato com ele, mas eu preferi me afastar. - falou Otto com grande mágoa na voz.
- Vocês nunca conversaram sobre isso, então?
- Nunca. Meu pai é passado agora e não sei como está a vida dele.
- Nem se interessa?
- Não. - falou Otto seco.
- Você nunca namorou? - perguntou Sara curiosa.
- Já, claro que já namorei, mas nunca levei a sério. Acho que sou mal visto pelas mulheres do bairro.
- Posso imaginar... - falou Sara balançando a cabeça em negativa.
- As mulheres precisam me entender.
- Não, Otto, as mulheres não precisam entender. Você é que precisa se entender. Às vezes, devemos aceitar e seguir em frente ou talvez procurar uma terapia para resolver isso.
- Terapia? Que grande bobagem! - falou Otto com ar debochado.
- Sim, terapia vai resolver esse seu complexo de Édipo.
Otto levantou as sobrancelhas e ficou pensativo. Nunca pensara nisso, cultuava a mãe sim, era uma mulher esforçada, carinhosa e lutadora, mas não era apaixonado como Édipo por Jocasta.
Depois que Sara fez essa revelação, Otto começou a visualizar uma vida diferente. 
"Será que tenho salvação? Será que tudo aquilo que pensara antes, se resolveria numa terapia?" - pensou Otto.
Essas dúvidas percorreram cada neurônio de seu cérebro e pensou em Sara. Ela estava ali também para ajudá-lo. Era boa ouvinte e uma ótima conselheira. Sara seria uma grande amiga.
Foi a deixa para pedirem o prato principal e então, resolveram pedir uma pizza. Otto queria que aquela noite fosse especial. Queria celebrar e nada mais apropriado que uma pizza de calabresa.
Quando o garçom chegou com a pizza saída diretamente do forno, Otto pegou seu copo de chopp e brindou com Sara:
- Ao nosso encontro! 
- Ao nosso encontro! - repetiu Sara.

27 agosto 2012

31 - Briga


Carolina estava saindo da Biblioteca, quando pegou seu celular na bolsa. Ia ligar para Phillip, mas avistou uma pessoa parada próxima ao meio-fio. Era um homem moreno e alto, e usava uma jaqueta de couro e óculos espelhados. Estava sentado em uma moto, como se estivesse esperando por alguém.
"Puxa vida, é o Roberto! O que ele quer agora?", pensou Carolina.
Roberto olhou na direção da porta da Biblioteca e avistou Carolina ainda parada, olhando para ele. Roberto levantou-se e fez um movimento com a mão pedindo para Carolina aproximar-se. Ela foi a contragosto, porque queria saber o que ele estava fazendo ali.
- O que você está fazendo aqui, Roberto? - perguntou Carolina, ainda com o celular na mão.
- Vim te ver, gatinha, não posso? - respondeu Roberto, tirando os óculos e os colocando na gola da camisa.
Carolina nada falou, apenas balançou a cabeça.
- Estava com saudades, venho observando você há algum tempo. Hoje resolvi vir falar contigo. - falou Roberto.
- Me observando? Está me perseguindo? Bem que Luca me avisou que tinha visto você zanzando por aí! 
- Tenho feito meu trabalho e nas horas vagas, pego minha moto e ando por aí, sem destino.
- Por que você não pega essa moto e faz uma viagem para longe, não é isso que esses motoqueiros fazem? Arranje um grupo e faça isso. - esbravejou Carolina.
- Taí, uma boa ideia, mas agora estou impossibilitado, mas se eu tivesse companhia, quem sabe? Aliás, você está ótima Carol, cada dia mais linda, essa pele de pêssego, esse cabelo... Você irradia beleza! Soube que você está namorando um gringo.
- Passaram informação errada. Estou namorando sim e ele é brasileiríssimo como eu! 
- Aé? Precisou vir um branquelo qualquer lá de longe para te conquistar, pois eu não era suficiente? Estou sempre por perto, é só pensar que apareço. - falou Roberto, fazendo carinho em uma mecha de cabelo de Carolina.
- Você deveria se fazer essa pergunta, pois foi você quem estragou tudo! Estou feliz com Phillip e foi até bom você ter aparecido, assim eu tenho mais certeza de que Phillip é realmente o homem que amo! - falou Carolina, distanciando-se das garras de Roberto.
- Ahh, Carolzinha, deixa disso, passou, você ainda está remoendo isso? Estou aqui, não estou? Se você se propuser a esquecer disso tudo, eu esqueço o que você fez também.
- Ah!!! O que eu fiz? Você é muito cara de pau, mesmo! - falou Carolina contrariada.
- Ah, vamos lá... 
Quando Roberto aproximou-se de Carolina para dar-lhe um beijo forçado, Phillip apareceu e não gostou do que viu. Carolina estava nitidamente constrangida e Phillip com ódio daquele cara que estava praticamente a pressionando contra a parede.
- O que está acontecendo, Carol? - perguntou Phillip.
- Nada não, Phillip, ele já estava indo embora. – falou Carolina em um tom apaziguador.
- Sou Roberto, ex-noivo de sua namorada. Aliás, você está desfrutando de uma Carol mais solta, mais sexy, você... 
Phillip não deixou Roberto completar a frase, desferiu um soco de mão fechada tão apertada que Carolina deu um grito de terror, pois não esperava a reação de Phillip, não daquele jeito. 
Com esse soco, Roberto riu de forma irônica e achou que deveria retribuir a gentileza, oferecendo outro soco no meio do nariz de Phillip, que o fez sangrar.
Começou assim uma luta no meio da calçada, com todos em volta olhando, sem saber o que fazer e Carolina ali presa com medo de sobrar para ela e receber um golpe sem querer de Roberto ou Phillip. Carolina olhava para os lados, pedindo ajuda, mas o que se via eram dois homens que brigavam como se estivessem em um ringue de luta. Era soco no rosto, soco no estômago, chutes a esmo, Roberto caindo em cima de sua moto e Phillip sendo jogado no meio da calçada. Por fim, Carolina se abaixou para proteger Phillip e gritou para Roberto nunca mais aparecer, que toda vez que ele aparecia era uma desgraça. Ela já tinha superado o término, mas não queria mais confusão, estava certa do amor de Phillip e com isso viveria sua vida.
Um homem que vira tudo ajudou Phillip a se levantar e enquanto isso Roberto montava em sua moto, dando partida e saindo desenfreado.
Carolina e Phillip foram juntos para o refúgio e Carolina cuidou de alguns ferimentos de Phillip.
- Não achei que você tivesse essa reação. - falou Carolina.
- Não aguentei ver aquele cara em cima de você, fiquei com muito ciúme e quando ele falou que era seu ex-noivo, o ódio subiu à cabeça. Desculpe-me, Carol, se assustei você. - falou Phillip repousando sua mão na mão de Carolina.
- Não, tudo bem, na hora fiquei assustada, mas bem que ele mereceu. Aqueles socos lavaram minha alma! Pena que você não saiu ileso disso tudo.
- Faz parte do show, meu amor! - riu Phillip, logo depois fazendo uma careta de dor.
- Ele não vai mais aparecer... Depois dessa, não mais! - prometeu Carolina.
- Pode ser que não apareça, mas deixou marcas bem dolorosas... 
- Isso passa com beijinhos e cuidados... - falou Carolina dando beijo em Phillip.
- Como vou trabalhar amanhã assim? Vou ficar roxo, não vou, amor?
- Vai um pouquinho, mas esse gelo não vai deixar você inchado, vou cuidar de você.
- Depois a gente conversa sobre isso, quero saber o que realmente aconteceu. - falou Phillip, deixando Carolina um pouco tensa.
Não dormiram no refúgio, Carolina e Phillip voltaram para as suas casas. Carolina recomendou que Phillip fizesse outra compressa de água gelada nos machucados. Despediram-se e Phillip foi embora.
Assim que chegou em casa, Carolina tomou uma ducha e ficou pensando no momento em que Roberto apareceu para ela. O coração palpitou um pouco, mas não sentia mais nada por ele, talvez o susto de encontrá-lo, depois de tanto tempo. Ele ainda estava com o mesmo aspecto, o mesmo jeito malandro e a mesma beleza, mas Carolina não queria mais isso em sua vida, apesar de Phillip ser um homem lindo, mas tinha conteúdo e fazia tudo dar certo, ao contrário de Roberto, que durante o tempo final do namoro só a fez sofrer. Carolina deixou de lado as memórias, se enxugou, colocou uma camisola e foi para o seu quarto. Acomodou-se junto a Agatha em sua cama, pegou um livro e assim que virou a página o telefone tocou.
- Alô! - falou Carolina desconfiada.
- Alô, amiga, sou eu, Luca!
- Oi, amigo! Tudo bem?
- Tudo ótimo! E você?
- Prefiro saber sobre você, me ligando a essa hora. Tem que ter um motivo forte. - falou Carolina.
- Ai, amiga, desculpe, mas é que estou muito ansioso! - respondeu Luca.
- Estava brincando, o que aconteceu? - perguntou Carolina ansiosa.
- Primeiro de tudo, como vão aqueles olhos da cor da caixa da Tiffany*? - perguntou Luca?
- Phillip não vai nada bem, conto depois que me contar o que aconteceu. - falou Carolina séria. 
- Bem, então vamos lá. Hoje, conheci uma pessoa fundamental para o meu crescimento profissional e quem sabe, amoroso. Conseguir juntar o útil do agradável, será que consigo?
- Não creio! Uma notícia ótima, Luca, mas como foi isso?
- Fui numa audição em que um amigo me indicou. O lugar estava cheio, fui lá para fazer a inscrição e a recepcionista falou que poderia ser hoje mesmo. Fiquei esperando a minha vez e enquanto isso, um homem apareceu e começou a bater papo comigo.
- Hmmm, sei. Como ele é?
- Mais velho do que eu. - falou Luca rapidamente.
- Ah, sabia! - riu Carolina.
- Não aguento mais aqueles garotinhos bobos, que só querem saber de balada, cansei amiga!
- Não é por menos, você merece um cara legal, amigo!
- Me deixa continuar... O bofe é moreno, nem tão alto, nem tão baixo, quase do meu tamanho, ótimo assim! Usa óculos, mas isso não atrapalha em nada, acho até charmoso. Deve ter uns 30 anos, super simpático, super lindo e super tudo!
- Super gay? - perguntou Carolina divertida.
- Super, amiga, quero dizer, nada exagerado e com cara de homem intelectual! Sexy!
- Ihhh. - riu Carolina. - E aí?
- Ficamos em um papo tão divertido que me esqueci da fila e quando vi, já era a minha vez. Subi e isso me incentivou a cantar melhor. Cantei e desci.
- Mas essa audição é para que?
- É para uma peça de teatro. Eles querem um ator que também cante. Não sei se gostaram, pois não dão a resposta na hora, mas pelo menos minha ida não foi em vão! - falou Luca motivado.
- Não mesmo, precisa agradecer ao seu amigo depois. - riu Carolina. Mas, o que fizeram depois?
- Bem, daí, ele me convidou para tomar alguma coisa, em um bar próximo ao teatro. Eu fui, né? Como recusar um convite tão tentador? - falou Luca rindo.
- Eu também iria! - falou Carolina.
- No papo, ele me contou que é um profissional da área de televisão. Ele trabalha como olheiro e também está levantando recursos para uma peça teatral.
- Uau, Luca, que bacana! Puxa, isso iria ajudar e muito! 
- Pois é, mas não quero ser um peixinho, quero entrar na área pelo meu talento! 
- Mas então, o que ele achou da sua audição?
- Bem, ele falou que fui muito bem, gostou do meu estilo e da minha conversa. Convidou-me para sair mais vezes com ele, quer me conhecer melhor, amiga! Estou muito excitado! - falou Luca eufórico.
- Calma, vai com calma, amigo!
- Eu sei, mas sabe quando você pensa que tudo está indo mal e de repente surge algo que te faz ficar motivado? Pois isso aconteceu hoje e amanhã vamos nos encontrar! 
- Vou ficar torcendo por você, aliás, nem preciso dizer isso, não é? - falou Carolina.
- É verdade. Mas e com você? O que houve?
- Você acredita que o Roberto foi ao meu trabalho, me azucrinar? - falou Carolina indignada.
- Bem, amiga, eu já imaginava que isso iria acontecer, depois que o vi perambulando pelas redondezas...
- Pois é, fui falar com ele, discutimos e ele não deixa aquele jeito malandro de ser. Phillip apareceu bem na hora em que ele estava me puxando para perto dele. Ele ainda é abusado! Fiquei até com medo do que Phillip fosse pensar, mas ele disse depois que estava de tocaia, observando.
- Hmmm, Phill é desconfiado é? Queria ver sua reação, talvez?
- Acho que eu faria o mesmo, Luca, sei lá. Eu e Phill passamos por situações de falta de confiança muito grande e acho que ele estava querendo fazer um teste. Não o julguei por isso.
- É, acho que também faria o mesmo, mas e aí?
- Aí é que ele veio furioso e quando Roberto fez daquelas suas piadas ridículas, Phillip meteu a mão na cara dele, começando uma briga feia. A rua inteira acompanhou.
- Minha nossa! Phill e Roberto brigando por você? Que máximo! - riu Luca.
- Nem pensei nisso, mas na hora a minha vontade era ajudar nos tabefes. Foi isso que aconteceu hoje. Fortes emoções!
- Mas o que houve nessa briga? Está tudo bem com Phill? - perguntou Luca assustado.
- Não... Está tudo bem agora, Phillip ficou com alguns machucados, mas nada grave.
- Que bom! Mas, amiga, pelo menos o dia não foi parado! 
- Não mesmo! - falou Carolina, dando um risinho.
- Bem, vou deixar você dormir agora, liguei porque não estava aguentando guardar isso só para mim, precisava te contar!
- E eu adorei ouvir, Luca! Beijão! Depois me conta o resto!
- Pode deixar! Outro beijo, tchau! - falou Luca finalizando a ligação.
"Cada um se diverte com o que tem.", pensou Carolina, dando uma gargalhada e relembrando o dia antes de dormir.


* famosa marca chique de joias que tem como embalagem, uma caixa na cor azul piscina.

24 agosto 2012

32 - Descontrole


Luciana ficou um bom tempo quieta, esperando, mas resolveu dar o ar da graça indo até o escritório de Phillip.
Colocou suas joias exageradas, uma roupa com seu inconfundível estilo e se encharcou com seu perfume habitual; forte e adocicado, para marcar sua presença aonde for.
Luciana entrou pela porta do escritório de Phillip vestindo uma calça apertada de couro, uma camisa néon azul e gigantes óculos escuros que cobriam quase todo o seu rosto. Segurava algumas revistas, cheia de atitude no rosto e a barriga de grávida nas costas.
Phillip que estava de cabeça baixa, analisando um briefing para mostrar na próxima reunião, levantou o olhar e viu Luciana fazendo cara de paisagem. Phillip esboçou um imenso suspiro.
- O que você quer, Luciana?
- Vim te mostrar uns recortes de uns vestidos. - falou Luciana determinada.
- Vestido? Que vestido, meu Deus!? - perguntou Phillip sem nenhuma paciência.
- Que vestido... Ora essa, Phillip, vestido de noiva! Ou você acha que eu, Luciana Martins D'Ávila não terei meu momento de princesa? - protestou Luciana.
- Peraí, Luciana, deixa eu me situar, me deixa ver esses recortes.
Enquanto Phillip olhava para os recortes da revista, Luciana falava sem parar.
- Estou falando, baby, que você e eu iremos nos casar! Daqui a pouco a barriga cresce e virarei chacota nas rodas da sociedade.
- Que sociedade? Você nem amigas tem! - exasperou-se Phillip.
- Estou me referindo aos invejosos de plantão, os que querem ver minha derrota. - explicou Luciana.
- Você só pode estar maluca. Essa gravidez não está fazendo bem a você... Quem colocou na sua cabeça que iremos nos casar?
- Como você é deselegante, Phillip. Você ainda tem dúvidas? Você, sempre desconfiado...
- Lógico, quando se refere a você, eu desconfio sim, sem dúvida nenhuma! - protestou Phillip.
- Bem, tudo bem, não me importo, no final você saberá, mas a questão é a seguinte: Estou pensando em voltar a morar no nosso antigo apartamento, o que acha? Ou você quer que eu encontre outro lugar?
- Preciso responder? Aliás, sua mãe deve adorar morar com você. 
- Mamãe não é o problema. Quero uma vida independente, quero cuidar do nosso filho e quando você souber que finalmente esta criança é sua, você voltará a morar comigo e consequentemente aos meus braços.
- Vai sonhando, Luciana. Mesmo se esse filho for meu, não serei obrigado a compartilhar minha vida com você.
- Não seja tolo! Aliás, Dona Maroca mandou um beijo para você. - falou Luciana, cortando Phillip.
- Quem é Dona Maroca?
- Dona Maroca foi a cerimonialista do casamento de seu colega, o Romero.
- E daí? - perguntou Phillip.
- E daí, que contratei Dona Maroca para fazer o nosso casamento. Inclusive fui à igreja ver as datas, mas só tem para final de outubro. - falou Luciana pretensiosa.
Phillip ficou parado olhando para as atitudes de Luciana e não sabia o que dizer, estava atônito com o descontrole dela.
- Você contratou uma cerimonialista? - perguntou Phillip admirado.
- Sim, você não precisa se incomodar com isso, eu mesma irei resolver tudo!
- Mas, Luciana, com que direito você fez isso? - Phillip a olhou com atenção.
- Com o direito de que você ainda é meu marido, bem, não oficialmente, por isso estou preparando o casório, mas ficamos juntos por três anos, isso já é suficiente, não? Então, tenho o direito sim! Amanhã venho mostrar modelos de convites. - falou Luciana num tom autoritário.
- Luciana! Luciana! Você está completamente maluca! Eu não vou me casar com você, eu não te amo, está me ouvindo? Não te amo! E esse filho não é meu! Saia daqui agora, por favor! 
- É assim que você trata a mãe de seu filho? Você está emocionado, precisa organizar melhor seus pensamentos, ligo para você mais tarde, quando estiver mais calmo.
- Não quero mais conversa, Luciana, não quero que você faça nada sem a minha autorização, ouviu bem? - gritou Phillip.
- Te ligo mais tarde, baby! Aliás, o que foi isso no seu rosto?
- Briga! Ataquei um cliente inconveniente, por pura raiva. - respondeu Phillip irônico.
- Phillip, você precisa se controlar, você já não está mais na idade...
Luciana saiu pegando suas revistas e jogando beijinhos no ar para Phillip.
Depois da cena que presenciara, ainda tinha que ouvir isso, vindo da maluca da Luciana. O que iria fazer para que ela parasse com aquela maluquice?


Quando ainda estava na biblioteca, Carolina recebera uma ligação em seu celular, de um número estranho, mas assim que ouvira a voz, reconhecera sendo a de Dona Elena.
- Oi, Carolina, tudo bem? É Elena, peguei seu número na agenda de telefone do Phillip que estava no quarto. Desculpe, estou atrapalhando você? – perguntou Elena receosa.
- Não, que isso, Dona Elena, estou à disposição, pode falar.
- O que houve com Phillip? Ele chegou em casa ontem com uma cara horrorosa, perguntei o que houve, mas ele desconversou e foi direto para o seu quarto. E nem o vi hoje de manhã, saiu cedo para o trabalho - falou Elena preocupada.
- Ah, Dona Elena, ele não queria preocupar a senhora, foi isso. - falou Carolina pensando em algo para contar, sem ser a verdade.
- Mas, o que houve? Eu e Constantin levamos um susto!
- Posso imaginar... Mas não se preocupe, está tudo bem! - falou Carolina, tentando acalmá-la.
- Tirando o rosto roxo e a boca cortada! 
- Phillip sofreu um assalto ontem, quando estava próximo a biblioteca. - falou Carolina por fim.
- Assalto? Mas que perigo! Como foi? - exasperou-se Elena.
- Ele foi abordado e como reagiu, o bandido deu um soco e saiu correndo, era um trombadinha.
- Eu já tinha conversado com Phillip sobre isso, que não era para reagir a nenhum assalto! Como ele é teimoso! Levaram alguma coisa?
- Não, Dona Elena, apenas sua dignidade! - falou Carolina em tom jocoso.
- E você, estava com ele? Feriu-se também?
- Estava com ele, mas não me feri. Não se preocupe, Dona Elena, está tudo bem agora, fiz um curativo nele, amanhã já vai ficar melhor. Ele deve ter ficado envergonhado.
- Vou paparicar meu filhote quando chegar, farei uma sopinha para ele. - falou Elena, soltando um risinho tímido.
- Faça isso, Dona Elena, ele vai gostar.
- Aproveito para agradecer pelo peixe, ficou delicioso, todos nós aprovamos! - Elena estava mais calma.
- Que bom que gostaram!
- Mandarei pelo Phillip uma sobremesa de Mil Folhas que Ivete fez, pedi para ela fazer para você e sua família. 
- Não precisava se incomodar, Dona Elena.
- Que isso! Faço questão!
Carolina despediu-se de Elena animadamente, prometendo que iria visitá-la em breve.
"Não seria nada agradável contar a verdade a ela, não iria estragar tudo" - pensou Carolina.