01 outubro 2012

11 - Domingo Especial



Carolina acordou com o sol penetrando em seu quarto, pulou da cama e ligou correndo para Luca, seu amigo, e o convidou para irem juntos à praia. Muito tempo que Carolina não sabia o que era pegar um bronze e ficou animada com isso. E também, queria contar as novidades para o seu melhor amigo.
Luca topou na hora e em meia hora bateria em sua casa para buscá-la. 
Carolina não tinha carro e nem sabia dirigir, nunca teve vontade, por isso na maioria das vezes seus amigos é quem davam carona.
Luca era um amigo divertido, tinha um estilo próprio muito bacana, por vezes melancólico, mas sempre muito objetivo e encorajador. Carolina o adorava!
Vestiu seu biquíni e na bolsa de praia, colocou alguns biscoitos, seu protetor solar e labial e uma toalha grande e, na mão carregou seu chapéu de palha que sempre levava e foi.
Luca foi pontual e já estava esperando Carolina no carro.
Foram para uma praia mais distante do que eles costumavam ir. 
Escolheram um lugar próximo da água, sentaram-se e começaram a conversa.
- Conheci um rapaz essa semana e estamos saindo, mas tudo muito amigável, sabe?
- Ele é casado? - falou Luca logo de cara.
- Não! Mas já foi, é separado.
- Ainda gosta da mulher?
- Acho que não, ele me explicou a situação. Inclusive a conheci.
- Conheceu a bruaca? Conte-me!!!
- Foi sem querer...
- É lógico que foi. - falou Luca num tom baixo de voz.
- Eu ouvi, hein? Foi o seguinte, fui até o trabalho dele e ela estava lá, discutindo com ele. Estão brigando pelo apartamento.
- Ihh, Carolzinha. Que furada você se meteu...
- Furada nada, para! Será??? - Carolina ficou confusa.
- Não sei, me diz você. - falou Luca em um ar blasé.
- Estou gostando dele e me parece que ele também, ora... Ontem mesmo, fomos a um karaokê.
- Hmmm, karaokê é legal. Já rolou beijo, pegação?
- Não, tudo muito respeitoso e sabe? Estou gostando assim, depois daquele idiota, você sabe bem, estou querendo curtir a pessoa antes de qualquer beijo, dos finalmentes e de qualquer tipo de laço carnal. 
- Mas você não transou logo de cara com o falecido, poupe-me! - falou Luca.
- Não, mas só fui conhecê-lo mesmo depois que transamos e ele achou que eu era propriedade dele, não quero mais isso.
- É, eu sei, você tem razão, mas acho que... Como é o nome dele?
- Phillip. 
- Nome de bofe rico, acertei?
- Se é rico não sei, mas é lindo, charmoso e tudo de bom! - gargalhou Carolina.
- Se ele tiver um amigo assim, você me apresenta, por favor! - riu junto Luca. - Bem, voltando ao assunto, acho que ele também está indo com calma, olha a bruaca da ex! Ele não quer passar pelo mesmo sufoco.
- É... – falou Carolina relembrando as coisas que aconteceram.
E voltaram para as suas posições, Luca com uma água de coco na mão, a outra segurando os óculos escuros, observando as pessoas, enquanto Carolina enfiava-se no chapéu de palha para proteger seu rosto, mas querendo seu bronzeado mais que fenomenal para mais tarde.
Carolina e Luca resolveram almoçar em um restaurante na praia. E enquanto estavam lá, o celular de Carolina tocou; era Phillip. Carolina abriu um sorriso e Luca se empolgou com a amiga.
- Alô. - falou Carolina num tom suave.
- Oi, Carol, tudo bem? É Phillip.
- Eu sei, meu bem, como você está?
- Tudo ótimo, onde você está, Carol?
- Estou na praia, aliás, saindo dela, estamos almoçando.
- Nós? - perguntou Phillip pausadamente.
- Ah... Eu e Luca, meu amigo.
- Amigo? Hmmm.
- Amigo sim, não precisa ficar com ciúmes...
Enquanto isso, Luca ria descontroladamente.
- Meu amigo de todas as horas, desde sempre, lembre-se que eu já o conhecia antes de você, seu bobo!
- Estou apenas brincando, Carol, liga para esse bobo não. - riu Phillip.
- Não ligo mesmo! - devolveu o riso Carolina.
- Quero te levar a um lugar hoje, pode ser?
- Claro que sim, onde? Ah... Já sei, surpresa!
- Exatamente! Às 16 horas te pego em casa.
- Tá bom, te espero. Beijo!
- Outro beijo, tchau!
Com Phillip era assim, praticidade acima de tudo, ele chegava logo ao ponto, sem meandros. E Carolina gostava disso.
Carolina olhou-se no espelho do quarto, de corpo inteiro e gostou do que viu. Estava com uma corzinha, não mais com aquela cara de escritório.
Como iriam sair daqui a pouco, iria colocar um vestido leve, acreditava que não seria nada formal.
Então, colocou a primeira roupa que viu no guarda-roupa,se isso fosse possível, mas estava feliz e a roupa não importava muito.
Era um vestidinho de alcinhas com estampa floral e a barra formada de tules rosa, que Carolina nunca usou. Optou por usar um sapato oxford dourado para quebrar o estilo muito menininha. Carolina gostou da combinação. Passou um batom clarinho e um gloss, ajeitou os cabelos castanhos deixando-os soltos e esperou por Phillip assistindo a TV.
Miguel e o pai, Júlio, tinham ido à casa da avó, mãe do pai de Carolina para uma visita. Miguel gostava de ir para lá, pois tinha muitos amigos, coisa que no prédio deles, isso não existia, pois era um prédio antigo, de três andares, com uma pequena varanda e sem área de lazer e os vizinhos em sua maioria eram idosos ou beirando a 3ª idade. Miguel era a única criança ali. Mas Carolina gostava do prédio, era sossegado e ventilado. Era aconchegante.
A gata já sabendo que Carolina iria sair, escondeu-se pela casa e só Deus saberia onde ela se enfiara.
Carolina deu um pulo com o toque do interfone. Levou um susto. Atendeu e pediu para Phillip esperar que já estava descendo. Correu para o banheiro, passou sua colônia, olhou-se mais uma vez no espelho, fez biquinho e saiu.
Chegando à calçada, viu Phillip segurando um cachorro pela coleira. Ele era lindo! Um labrador, marrom, com olhos cor de mel e assim que ele viu Carolina, pulou em cima, com as patas enormes e começou a lamber seu rosto.
Phillip levou um susto e deu um puxão na coleira e fez com que o cachorro sossegasse. Mas o rabo do animal não parava de se mexer.
- É seu, Phill? - perguntou Carolina animada.
- Sim! É o Bento, meu dog. Acho que não precisa de mais apresentações, ele fez questão de se precipitar, né garotão? - Phillip balançou a cabeça de Bento.
- Ele é lindo! Prazer Bento! - falou Carolina, fazendo carinho no pêlo do animal.
- Ele é muito bagunceiro, mas muito carinhoso, adora as pessoas. Principalmente crianças.
- Posso imaginar e aposto que elas o adoram também!
- Ô! E como, - falou Phillip orgulhoso.
- Vem, vamos! 
Phillip puxou Carolina pela mão, abriu a porta do carro para ela e colocou Bento no banco de trás.
Quando chegaram, Carolina avistou uma rua arborizada e tranquila. Mas, para chegar até o local era preciso deixar o carro na calçada e caminhar um longo caminho. A tal casa ficava num lugar escondido, mas o que se via era muito bonito. Muitas árvores, pássaros cantando, um jardim florido e outro sendo preparado para outros fins. Phillip acenou para o jardineiro que o saudou com um bom dia animado.
A casa já estava aos olhos de Carolina e Phillip. Era uma casa grande, com uma imensa varanda; algumas cadeiras penduradas pelo teto, como de balanço e outras espalhadas, todas de cortiça. Muitas flores e placas de "Seja Bem-vindo", "Sorria", "Aqui Moram Pessoas Queridas" enfeitavam o lugar.
Era um asilo, com uma enorme placa: "Asilo Canto dos Românticos".
Phillip soltou Bento da coleira e ele fez a festa indo direto aos idosos que estavam na varanda. Todos festejaram a presença de Bento, dando abraços, beijos e balançando sua cabecinha e orelhas.
Phillip olhou para Carolina sorrindo. Carolina estava impressionada.
- Trouxe você aqui hoje para conhecer meus amigos. - falou Phillip.
- Alguém da sua família está aqui? - perguntou Carolina surpresa.
- Não, não. Uma vez fizemos um trabalho de publicidade para o asilo e com isso resolvi conhecer o lugar para saber como faríamos. Achei o lugar tão gostoso, que resolvi vir sempre com o Bento para uma visita e também para fazermos pequenas doações. Alguns são muito solitários aqui, então juntei o povo do trabalho e doamos livros, revistas, filmes, músicas, roupas, alimentos, não tudo de uma vez, claro, mas listamos o que queremos dar e damos no dia estipulado. 
- Nossa, Phill, uma atitude muito bacana!
- Achei que você iria gostar!
Assim que Carolina entrou para conhecer os idosos, todos a olharam sorridentes, antes mesmo de Phillip falar, eles já a beijavam no rosto, pegavam sua mão e a abraçavam.
- Phill, sua namorada é tão linda, porque você nunca a trouxe aqui? - falou uma senhora simpática.
- Estou trazendo agora, Heidi!
- Ela é tão lindinha! - falou a senhora juntando suas mãos no rosto de Carolina.
- Obrigada. -falou Carolina.
- Quando é que vocês vão se casar? - falou outra parecendo a Dona Benta, com tricô nas mãos.
- Quando ela quiser, Joana! - respondeu Phillip rindo para Carolina, que ficou toda encabulada.
Um senhor saiu da casa, direto falar com Phillip e o levou para dar uma olhada no jardim. E com isso Carolina ficou sozinha com os idosos.
Um deles a levou para conhecer a casaeassim que entrou ouviu uma música embalando o ambiente, era José Augusto. Seu pai ouvia muito. 
A casa continha vários quartos, um colado ao outro, a sala ficava no meio com várias poltronas e sofás, com muitas almofadas que foram feitas pelas moradoras. O sol da manhã entrava pela porta principal da casa que era larga e estava sempre aberta. Se os moradores abrissem as portas dos seus quartos, ficaria ainda mais iluminada. Alguns quartos estavam fechados, mas os que Carolina conseguira ver, eram pequenos, contendo uma cama, um pequeno armário e uma mesinha com uma cadeira. Alguns colocavam fotos dos netos nas paredes, outros tinham santos postos em altares. Cada um com sua particularidade. Em um, vi um grande quadrocomfoto preta e branca de um casal sorrindo um para o outro.
- Esse casal vivia aqui. O Francisco faleceu há um mês. Giselda continua aqui, mas está muito triste ainda. - falou Castiel, o cicerone, para Carolina.
Em outro quarto uma coleção espetacular de corujas, todas em miniatura, ficavam em três prateleiras suspensas.
- Essa aqui, a Milena, adora colecionar! Têm mais coisas nos armários, depois ela mostra para você. - falou Castiel sem cerimônia.
Carolina olhava tudo minuciosamente e deu um aperto no peito. Pensou no quanto aquelas pessoas eram infelizes por terem sido deixadas de lado pelos familiares. Pensou na mãe. Que saudade tinha dela. Não faria isso com ela, se ainda estivesse viva e nem com o pai.
Castiel, o senhor franzino, mas muito agitado levou Carolina até a cozinha. A cozinha era clara pelo dia, arejada e espaçosa e tinha uma mesa central com bancos de madeira. Um jarro bonito com flores decorava o local. Não tinha ninguém ali, mas se sentia o cheirinho de comida sendo feita.
- A cozinheira deve ter ido até o pomar. - Castiel parecia ler os pensamentos de Carolina.
A porta da cozinha levava ao pomar e realmente, a cozinheira estava lá. Era uma mulher de meia idade, baixinha, de cabelos escuros e muito simpática.
- Oi! - falou ao ver Carolina.
- Oi, sou Carol, vim com Phillip!
- Phillip está aqui? Ai, que saudade estava daquele menino! Fale para ele que teve sorte, fiz o pudim de leite condensado que ele adora!
- Ahhh, vou dizer sim, aliás, nem precisa... - Carolina terminou a frase quando avistou Phillip na porta da cozinha.
Cléa foi em direção a Phillip e o abraçou, dando palmadinhas em suas costas. 
- Saudade de você, menino, andou sumido, hein? - falou Cléa.
- Muito trabalho, me desculpe! 
- Tanto está desculpado, que adivinhei que você viria e fiz aquele pudim. - falou Cléa rindo.
- Não acredito! Guarda um pedaço para mim e para Carolina, por favor!
- Lógico, filho!
- E então, gostou de Carolina? - perguntou Phillip piscando para Cléa.
- Ela é linda e combina com você! 
Carolina não tinha ouvido, pois estava conversando com Castiel.
Quando saíram da cozinha, Carolina e Phillip foram para a varanda bater papo com os idosos, enquanto Bento ia dar um alô para cada um deles. 
A casa tinha doze moradores, a cozinheira Cléa não morava ali, mastrabalhava todos os dias e saía às 18 horas. O responsável pelo localiaduas vezes na semana, mas ele colocou um casal como assistente e eles estavam todos os dias ali para algum problema ou outras questões, que ficava numa sala à parte.
Carolina ficou sentada num toco de madeira olhando para as senhoras. E elas admiravam seu vestido e perguntavam sobre sua vida.
Uma delas prometera que faria um xale para ela quando viesse da próxima vez.
Carolina sentia-setriste e feliz ao mesmo tempo por ver aqueles idosos enfrentarem a vida com a cabeça erguida, sem se abalarem com o passado, com as incertezas e com o abandono. Estavam juntos nessa jornada, faziam companhia um para o outro, se divertiam e era isso que eles queriam, uma vida tranquila, num lugar belo e acolhedor.
"Talvez eles não teriam essa vida se estivessem com seus familiares. Pode ser." pensou Carolina.
Na volta para casa, Phillip notara uma Carolina triste e pensativa.
- O que foi, Carol? Estou achando você triste.
- Nada não, Phill.
- Como nada? Você não estava assim, me conte o que houve!
- Sei lá. Senti uma tristeza com esses idosos e ao mesmo tempo feliz por eles terem esse lar.
- Eles são felizes lá, Carol, apesar de alguns terem sido abandonados por suas famílias, mas muitos vão lá para visitá-los. Muitos não têm paciência ou mesmo tempo para cuidar deles, mas acredito que alguns se preocupam e vão visitá-los.
- Eu vi tristeza em muitos ali, Phill e pensei nos meus pais, na saudade que sinto da minha mãe, de não ter a visto envelhecer. 
- Você nunca contou o que aconteceu a sua mãe.
- Não gosto de falar sobre isso, mas posso contar a você.
- Não se sinta pressionada.
- Não, tudo bem, é preciso falar sobre isso também. Minha mãe faleceu quando ela tinha 50 anos, infarto fulminante. Ela estava fazendo o almoço e de repente passou muito mal e morreu nos meus braços. Miguel não tinha chegado da escola e meu pai estava na rua. Estávamos sozinhas, isso foi há dois anos.
- Nossa, Carol. Sinto muito. - falou Phillip abalado.
- Eu não sabia o que fazer, entrei em desespero, liguei para a emergência, mas não tinha mais jeito. A pessoa que mais amava na vida tinha ido embora. Foi difícil contar para o Miguel o que tinha acontecido, muito difícil. - Carolina já estava aos prantos.
Phillip estava desconcertado, parou numa calçada, desligou o motor do carro e a abraçou. Ficaram calados por um momento, até Carolina se recompor e seguirem viagem.

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