23 outubro 2012

2 - Phillip


No dia seguinte, lá estava Carolina no banco da praça e dessa vez tinha um pequeno caderno de anotações com um poema que escrevera no dia anterior e que lia atentamente:

“Ontem à noite, sonhei com você.
Seu retrato na estante
Num doce rompante
Sua voz ao telefone
Dizendo de longe o que quero ouvir.
A essa hora não sei lhe dizer...
Tudo o que penso, some no ar.
E tudo o que sei é que irei sempre te amar.
Eu não quero parar de pensar,
No quanto amor eu já lhe dei
Eu não quero parar de pensar,
No quanto eu lhe quero bem.
Você aqui deitado, a cama nos abraça
A paixão nos guia...
Eu amo você.”

Quando terminou a leitura, olhou disfarçadamente para os lados, mas Phillip não estava lá. Pensou mil coisas, pensou que ele talvez não tenha gostado muito dela.
Esperou por mais alguns minutos, até visualizar ao longe uma pessoa com passos largos, parecendo estar atrasado para um encontro.
Ela tentou disfarçar, voltando para a leitura, mas não resistiu e olhou novamente e dessa vez, Phillip estava a segundos dela.
- Oi! Achei que você não estaria mais aqui. - falou Phillip ajeitando os cabelos despenteados pelo vento.
- Que nada! Cheguei agora! - mentiu Carolina e pensou:
“Até ajeitando os cabelos, ele fica charmoso. Li em um livro que esse gesto é de interesse, conquista, bem...”
- Estava com um cliente super exigente, daqueles que querem acompanhar cada processo do trabalho nos seus mínimos detalhes.
- Seu trabalho é bem agitado, não? - questionou Carolina abrindo um pouco a boca.
- Demais! - falou Phillip tentando ainda recuperar o fôlego.
- O meu já é pacato demais, burocrático e rotineiro. Nada de emocionante acontece por lá. Chego no horário, almoço no horário, saio às 17h em ponto. Pareço um robô!
- Você parece não estar satisfeita com ele, Carol...
- Às vezes me sinto insatisfeita, em outros, adoro o meu trabalho. Talvez se eu não tivesse os colegas que tenho, seria enfadonho. Na verdade queria ser escritora, poder viajar, conhecer as culturas dos países, as pessoas e escrever sobre elas. - falou Carolina num tom triste.
- E você já tentou fazer isso, Carol? Escrever?
- Sim! Tento o tempo todo, mas não consigo sair de uma página. Acho que me falta experiência, inspiração. Sei lá...
- Carol, acho que falta é disposição para você conhecer pessoas e seus lugares.
- É... - sussurrou Carolina.
Phillip deu uma olhada minuciosa em Carolina eno caderno que carregava, aproveitando que ela estava com a cabeça baixa e notou uma aliança um pouco escondida debaixo de um anel. “Seria ela noiva?”, pensou.
- Desculpe perguntar, mas reparei que você usa uma aliança. Você está noiva?
Carolina ficou encabulada com a observação.
- Não, não sou. Era a aliança de minha mãe. Uso para homenageá-la, de qualquer forma. Como se ela estivesse sempre comigo.
- Hmmm, entendo. Deve ter sido muito dolorido sua perda, mas ao mesmo tempo fico feliz. - falou Phillip, deixando sair um sorriso encabulado.

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