30 agosto 2012

28 - Primeira Impressão


Otto pegou sua carteira e o celular que estavam em sua sala e foi fazer o que Phillip pediu. Até ficou curioso, pois finalmente conheceria a tão falada Carolina. 
Pegou um táxi, pois Otto estava sem carro.
Um trânsito lento percorria todo o caminho, mas não demorou muito a chegar.
Entrou na Biblioteca e estava tudo calmo, tirando o sino dos ventos que fez seu dever, parecia que não havia ninguém. Otto olhou ao redor e como não avistou ninguém, apenas duas pessoas que liam com afinco seus livros, apertou a campainha de mesa, aparecendo logo depois uma mulher de cabelos curtos e sorriso carismático.
- Oi, boa tarde, posso ajudá-lo? - perguntou Sara solícita.
- Sim, gostaria de falar com a Carolina - falou Otto levantando as sobrancelhas.
- Hmmm, temo dizer que ela não está. É só com ela?
- Acho que não. Na verdade, sou Otto, amigo do Phillip, o namorado dela. Vim entregar este envelope a pedido dele. Você é? - perguntou Otto.
- Sou Sara, colega de trabalho e amiga pessoal de Carolina. - falou Sara oferecendo a mão para um aperto. - Acho que não tem problema se eu ficar com ele, ou você quer voltar depois?
- Não, acho que não será necessário, você parece ser de confiança. - sorriu Otto.
Sara pegou o envelope das mãos de Otto e o colocou embaixo da bancada.
- Pronto. Está seguro agora. Espero que não seja uma bomba! - exclamou Sara alarmada.
- Bomba? - sorriu de lado Otto. - Que namorado é esse que manda uma bomba para a namorada?
- Não sei, quem me garante que você é realmente amigo do Phill?
- Agora você me pegou. Posso mesmo não ser. Tenho cara de homem bomba? - disparou Otto.
- Não tem cara, mas pode ser um espião. - Sara falou analisando Otto. 
- Um espião? Dessa eu gostei. - riu Otto.
- Só é um pouco baixo para os padrões. - Sara se divertia.
- Baixo? Sou baixo? - Otto demonstrou chateação.
- Os espiões são bem altos, mas você tem carisma, os espiões são carismáticos.
- Agora ficou bem melhor.
- Você está me enrolando, me diga. Como é o Phillip?
- Phillip? Quem é esse cara mesmo? - Otto fazendo-se de engraçado.
Sara riu e falou que Otto era muito divertido e de repente Sara sentiu uma excitação que há muito tempo não sentia e estava gostando daquilo.
- Phillip é um magrelo branquelo, de olhos esbugalhados azuis e beiços vermelhos, com alguns sinais no rosto. É esse o cara que você conhece? - falou Otto.
- Meu Deus, esse cara que você falou é horroroso, mas sim, me parece ser ele. - riu Sara.
- Você trabalha aqui há muito tempo? - perguntou Otto.
- Trabalho aqui há oito anos. Carol há cinco. Gosto muito daqui. 
- Por falar em Carolina, onde ela está?
- Ah, ela saiu com Celso, foram fazer uma visita de trabalho a outra biblioteca. Voltam logo. Celso é outro funcionário daqui. 
- Entendi. Pensei que fosse conhecer a mulher que desvirtuou meu amigo. 
- Pro lado bom ou pro mau? - perguntou Sara curiosa.
- Só ele para saber...
- Na sua humilde opinião... - insistiu Sara.
Otto apoiou os cotovelos na bancada e disse:
- Phillip continua o mesmo, só um pouco desatento. O amor não é um bom negócio para os profissionais de ideias.
- O amor não é bom? - Sara espantou-se.
- Bom é, mas de outra maneira. Os apaixonados são seres bobos, qualquer coisa ficam alheios ao mundo e só querem pensar na namorada, ou namorado. Aliás, você tem namorado?
Sara deu um sorriso de canto e não respondeu a pergunta de Otto, talvez ele quisesse testá-la, em vez disse, perguntou:
- E você nunca ficou bobo? Mais bobo? - riu Sara.
- Jamais! Sou um cara disciplinado.
- Disciplinado com o que?
- Com a minha mente sã. 
- Quanta bobagem o que você está dizendo, não sabe como é bom ter alguém, se apaixonar!
- Sei não... - falou Otto balançando a cabeça para baixo.
- Ninguém vale nada enquanto não foi amado! - falou Sara citando Tennessee Williams.
- Eu valho, eu me amo! - falou Otto convincente.
- Não posso acreditar que não acredita no amor, sendo um homem tão carismático.
- Isso não muda nada. Sou um homem como outro qualquer...
- Me dê sua mão.
- O que? - admirou-se Otto.
- Sua mão, me mostre elas.
- Para que?
- Você verá...
Otto ofereceu uma das mãos e Sara analisou cada detalhe de suas linhas. Sara tinha uma mania de ler as mãos, já tinha estudado sobre quiromancia em livros dispostos na Biblioteca e feito um curso de tarô, às vezes errava, às vezes acertava na mosca. Mas, o que mais notou foi a mão de Otto; mão morena e suave com dedos médios e grossos. Tinha uma atração por homens com mãos grandes e bonitas.
- Ahh, aqui está, já entendi tudo. Você teve uma decepção! Aliás, duas!
- Como você sabe disso? É cigana agora?
- Não importa. Acertei, não é?
- Não falei nada... Você é quem está dizendo.
- Tanto falei que você confirmou. Otto, é normal se decepcionar no amor, não é normal você ainda pensar nisso. O que ficou no passado, deve permanecer lá. Eu também já sofri e muito por amor, mas sou uma pessoa otimista.
- Não sofri por amor. Só não acho que um amor irá mudar quem sou.
- Mas o amor não muda você. O amor faz você olhar as coisas por outro ângulo. - falou Sara.
- Esse papo de amor não vai me levar onde você quer. Odeio isso, teimam em querer mudar o que penso, esse sou eu, não vou mudar. - falou Otto ríspido.
- Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. - falou Sara, agora citando William Shakespeare. - O cara que falou essa frase, sabia das coisas, pense melhor nisso.
Quando ainda estavam conversando, Carolina e Celso retornaram da visita. O sino dos ventos dedurou-os e com isso, Otto e Sara pararam de conversar.
- Olha aí, chegaram eles! - bradou Sara.
- Oi, Sarinha, tudo bem? - perguntou Carolina.
- Olá, todos! - cumprimentou Celso sorrindo amarelo.
- Carol, esse aqui é o Otto, amigo do Phill. Ele veio te entregar um envelope. - Sara falou pegando o envelope e entregando a Carolina.
- Oi, Otto, prazer! Tudo bem? 
- Tudo bem, prazer em conhecê-la. Finalmente conheci a princesa dos sonhos do meu camarada.
- Uauuu, somos seus meros servos, princesa Carolina. - Celso brincou, fazendo reverência a Carolina.
- Bem, foi ótimo conhecê-la, agora já posso imaginar seu rosto quando Phill falar de você. - falou Otto. - Agora, preciso ir, prazer em conhecê-la também, S a r a. - falou Otto pronunciando o nome de Sara pausadamente e despedindo-se de Celso, batendo em seu ombro.
- Até mais! - falou Carolina.
- O prazer foi meu, Otto! - respondeu Sara sorridente, sem demonstrar constrangimento.
E Otto saiu porta afora. Saiu da Biblioteca, foi até o meio fio e fez sinal para um táxi, olhou para o relógio e já era 5.20h da tarde e resolveu não voltar ao trabalho, iria para casa, mas enquanto isso, pensou no que Sara tinha lhe dito e ficou bem impressionado. 
- E aí, carinho, gostou do bofe? - perguntou Celso.
- Como assim? - perguntou Sara.
- Otto é bonito, imaginava outro estilo... Bonitão, hein? - falou Carolina batendo o ombro no de Sara.
- Ah, ele é bonito, mas é um homem frio, debochado e não acredita no amor!
- Amor? Vocês já chegaram a esse ponto, carinho? - perguntou Celso.
- Uma conversa foi levando para a outra, mas nada demais, gente! Vou para casa, que já está na minha hora! - falou Sara apressada.
- Já mesmo! Levo você em casa, hoje vim de carro! - falou Celso.
- Não precisa, não vou para casa, vou precisar passar na farmácia antes.
- Vou contigo. - insistiu Celso.
- Não! Depois vou a outros lugares, não precisa, obrigada Celso! 
- Ok, carinho! - falou Celso, jogando beijo para Sara.
Sara pegou sua bolsa, despediu-se de Carolina e foi embora.
Carolina e Celso olharam-se com cara de riso e disseram ao mesmo tempo: "Ihhhhhh".


Nenhum comentário:

Postar um comentário