28 agosto 2012

30 - Segunda Chance


Dias se passaram e enquanto Carolina e Phillip encontravam-se dia sim, dia não e indo para o refúgio aos fins de semana, Sara recebia todos os dias um convite de Otto para jantarem e Sara recusava todos eles, dando desculpas evasivas. Passado o fim de semana, Sara pensou um pouco melhor. Aquele dia seria diferente. Foi até à sala de Celso para saber sua opinião.
- Carinho, você está com medo de que? - perguntou Celso.
- Não é medo, mas a Carol já tinha me contado sobre a vida de Otto, de suas conquistas, não quero ser mais uma. - falou Sara.
- Você está apaixonada por ele?
- Não! - falou Sara convicta.
- Então, qual o problema, carinho, em ser mais uma? Você se diverte, ele também. Se não está apaixonada, bom para você.
- Não sou deste tipo, Celso! 
- É claro que não, mas sair um pouco da rotina, conhecer gente nova, faz bem para a saúde mental e para a saúde daqui... - Celso falou apontando para o órgão sexual de Sara.
- Celso! - exclamou Sara alarmada.
- O que foi, carinho? Não disse nada de errado, nada criminoso e estou completamente certo! - Celso levantou a cabeça em forma de protesto.
- Eu sei... Mas você falando assim, parece que não sei o que é isso há muito tempo... - riu Sara envergonhada.
- E parece que não sabe mesmo! Nem pensando direito você está! Deixa de ser boba, Sara, você não é nenhuma caretona. O que há contigo?
- Acho que ele me fisgou.
- Hmmm, sabia! Sabia! Está esperando o que? Aceita o convite e veja como ele se comporta. Vou ficar torcendo por você, qualquer coisa grita! - falou Celso pegando nas mãos de Sara com carinho.
E quando Otto ligou no final da tarde, Sara finalmente aceitou seu convite para um jantar, mas o alertou de que não iriam se demorar. Otto ficou feliz e pensou que se não tivesse sido insistente talvez aquele sim jamais acontecesse. Ainda bem que não desistiu.
Combinaram de se encontrar na frente do restaurante. Sara não queria entrar no carro dele, não queria ficar sem graça ao lado de Otto.
Otto acertou um horário e já estava com o carro pronto para ir. Ajeitou os cabelos no espelho da sala e saiu. Quando chegou ao restaurante, Sara já estava na porta, olhando para os lados impaciente, vestindo uma calça estampada de flores, uma blusa branca e um colar de pérolas. Um batom vermelho dava um ar sexy. Sara estava bem diferente da última vez que Otto a vira. 
- Oi, Sara, fiz você esperar muito?
- Não, acabei de chegar. Achei que você estava me observando de longe.
- Nada disso, acabei de chegar também - riu Otto.
Entraram no restaurante e a recepcionista pediu para eles aguardarem, pois o local estava cheio e ainda não tinha uma mesa vaga.
Depois de alguns minutos de espera e de um pouco de constrangimento por parte de Sara, eles encontraram uma mesa um pouco afastada do burburinho do restaurante. Uma mesa de dois lugares, que ficava ao lado de um jardim de inverno.  
Resolveram pedir um couvert antes do prato principal, Otto queria ter mais tempo para conversar com Sara, antes que se enfiassem em um prato apetitoso.
- Tenho que admitir, fiquei impressionado contigo... - falou Otto logo de cara.
- Ficou impressionado porque eu li sua mão? - perguntou Sara.
- Você chutou para o gol!
- Não, eu realmente li sua mão. Estudei sobre isso há algum tempo.
- Não acredito! - Otto estava surpreso.
- Acredite se quiser! Você vai me contar o que houve ou vou precisar abrir minhas cartas de tarô aqui para você acreditar em mim? - ameaçou Sara.
- Está com elas aí? - perguntou curioso Otto.
- Sempre as levo na bolsa, para alguma emergência.
- Sei... Não, não vai precisar usá-las, só quero que adivinhe o número que calço, daí, lhe conto.
- É 43! - falou Sara sem pestanejar.
- O que? - riu Otto. Como você sabe?
- Olhando para os seus pés, ora essa. Trabalhei algum tempo em uma loja de calçados, sei o número que a pessoa calça só de olhar. Você tem bom gosto para sapatos, por falar nisso. - falou Sara séria.
- Uau, você realmente me impressiona.
- Não vai me contar? - insistiu Sara.
- Você pode ser menos ansiosa? Vamos aproveitar o momento, não é isso que você mesma fala? - falou Otto bebendo seu chopp.
- É verdade, agora você me pegou, então ok, não vou forçá-lo a falar. Vamos falar de outra coisa.
Começaram uma conversa banal, sobre times de futebol, política e onde moravam, até Otto parar no meio de uma conversa e falar:
- Ok! Você venceu! Vou contar para você. Você é muito boa na persuasão.
- Mas eu não fiz nada! - sorriu Sara.
- Fez sim. Ignorou o que eu tinha a dizer, não deu a mínima.
- Foi você quem quis assim. - falou Sara mostrando as mãos e virando-as para ele, em uma expressão desentendida.
- Eu não sofri por amor. - Otto começou. - Sofreram por amor e eu fui atingido.
Sara ficou observando Otto sem fazer o menor movimento.
- Meus pais são separados desde os meus 11 anos. Sofri muito. Não falo com meu pai há muitos anos, eles, antes de se separarem, brigavam muito e mesmo assim nunca achei que eles pediriam o divórcio. Tenho um irmão mais velho e ele achou melhor a separação, mas, eu não!
- Seu irmão tem quantos anos? - perguntou Sara.
- Na época ele tinha 16 anos e já estava cansado das brigas dentro de casa. Agora ele está com 34 anos, eu tenho 30. - falou Otto.
- Seu irmão já entendia das coisas, já sabia o que rolava, você ainda era muito pequeno para entender.
- Mas foi o que mais sofreu. Minha mãe também sofreu, e muito! Meu pai saiu de casa e logo depois foi morar com outra mulher. Descobrimos depois que ele estava traindo minha mãe com essa mesma mulher. Eles trabalhavam juntos.
- Situação complicada. Apesar disso tudo, por que vocês não se falam mais?
- Meu pai anulou um pouco a família. Ajudava-nos financeiramente, mas em companhia e amor era totalmente nulo. A mulher dele não gostava quando eu ia para a casa deles e isso foi afastando-nos. Otávio não ia comigo, ele nunca quis ir para lá. Eu sofria na mão daquela mulher, meu pai sempre fez vista grossa.
- Otávio, Otto... Quem escolheu os nomes? - perguntou Sara tentando aliviar a conversa.
- Complicado, faço parte daquelas famílias que gostam de colocar os nomes dos filhos começando com a mesma letra. Meu pai se chama Orlan e minha mãe, Olga.
- Ahh, agora entendi o motivo! - riu Sara. - Pelo menos seus nomes são bonitos, não é nenhuma junção horrorosa.
- Pelo menos isso! Gosto do meu nome. Otto, com dois 'tês' - frisou. - Otto significa homem próspero. Pelo menos na profissão, sou bem sucedido, alguma coisa boa tinha que ter! - riu.
O garçom apareceu, perguntando se queriam fazer o pedido do jantar. Otto e Sara pediram para esperar mais um pouco, ainda estavam decidindo.
- Depois de alguns anos, quando eu já era crescido, minha mãe ficou doente, precisando de tratamento, a mulher dele proibiu que ele oferecesse ajuda, as despesas ficaram todas por nossa conta. Meu irmão já estava trabalhando e eu ainda estava terminando o segundo grau. 
- Sua mãe não trabalhava? 
- Sim, ela já era aposentada, trabalhou como bancária. O dinheiro ia para o tratamento também. Minha mãe teve câncer, Sara. Mas, ainda bem que agora está tudo bem, está sempre em alerta, fazendo exames, mas na época foi tudo muito pesado e triste.
- Foi então essa infelicidade que eu vi em suas mãos, a decepção de ver seus pais separados e o abandono de seu pai. Você pode não acreditar, mas eu vi muita infelicidade em você. No modo como você falava, na falta de esperança, isso tudo foi ruim. - falou Sara.
- É por isso que não acredito no amor, acho que tudo tende a acabar, a esmorecer, tudo termina em sofrimento.
- Não seja tão cético. Você passou por uma experiência ruim, mas isso não significa que irá acontecer com você também. Seu pai errou, mas não podemos falar com exatidão o que aconteceu antes com seus pais, o que realmente aconteceu.
- Minha mãe é a pessoa mais maravilhosa que conheço. Depois que ela teve câncer e curou-se, nunca mais falei com meu pai. Cortei relações e ele também não fez nenhum esforço em nos procurar. Acho que Otávio mantém pouco contato com ele, mas eu preferi me afastar. - falou Otto com grande mágoa na voz.
- Vocês nunca conversaram sobre isso, então?
- Nunca. Meu pai é passado agora e não sei como está a vida dele.
- Nem se interessa?
- Não. - falou Otto seco.
- Você nunca namorou? - perguntou Sara curiosa.
- Já, claro que já namorei, mas nunca levei a sério. Acho que sou mal visto pelas mulheres do bairro.
- Posso imaginar... - falou Sara balançando a cabeça em negativa.
- As mulheres precisam me entender.
- Não, Otto, as mulheres não precisam entender. Você é que precisa se entender. Às vezes, devemos aceitar e seguir em frente ou talvez procurar uma terapia para resolver isso.
- Terapia? Que grande bobagem! - falou Otto com ar debochado.
- Sim, terapia vai resolver esse seu complexo de Édipo.
Otto levantou as sobrancelhas e ficou pensativo. Nunca pensara nisso, cultuava a mãe sim, era uma mulher esforçada, carinhosa e lutadora, mas não era apaixonado como Édipo por Jocasta.
Depois que Sara fez essa revelação, Otto começou a visualizar uma vida diferente. 
"Será que tenho salvação? Será que tudo aquilo que pensara antes, se resolveria numa terapia?" - pensou Otto.
Essas dúvidas percorreram cada neurônio de seu cérebro e pensou em Sara. Ela estava ali também para ajudá-lo. Era boa ouvinte e uma ótima conselheira. Sara seria uma grande amiga.
Foi a deixa para pedirem o prato principal e então, resolveram pedir uma pizza. Otto queria que aquela noite fosse especial. Queria celebrar e nada mais apropriado que uma pizza de calabresa.
Quando o garçom chegou com a pizza saída diretamente do forno, Otto pegou seu copo de chopp e brindou com Sara:
- Ao nosso encontro! 
- Ao nosso encontro! - repetiu Sara.

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